PREGAÇÃO DA PALAVRA, UMA NECESSIDADE ABANDONADA



Vivemos hoje tempos difíceis, tempos que se levantam contra a Verdade de Deus, tempos que tentam relativizá-la ou até destruí-la. O mais estarrecedor é que esta calamidade também ocorre dentro dos espaços que são identificados como evangélicos. E dentre as muitas oposições mencionadas destacam-se: relativização da Lei de Deus, amenização do pecado, desfiguração da teologia, descaracterização do culto e a descentralização de Cristo em nossa vida. Isso, todavia, não surpreende, uma vez que o mundo está sob o controle do maligno ou, como afirma João, jaz no maligno. Tal expressão significa dizer que o presente século encontra-se no regaço de Satanás para cumprir os seus maus desígnios para impregnar o coração do homem de pecado e, conseqüentemente, impregná-lo da morte (que significa separação de Deus). É triste perceber que muitas igrejas estão habitadas por cadáveres que estão amoldados à cobiça da carne, cobiça dos olhos e à soberba da vida.
Neste contexto nefasto surge uma pergunta: qual a solução para esta situação? Como combater o secularismo que destrói o mundo e enfraquece o rebanho? A solução encontra-se na defesa e na pregação das Verdades imutáveis do Senhor Deus contidas nas Sagradas Escrituras, pois somente assim perceberemos quem, de fato, é do Senhor, e quem não é. Somente a divulgação, obediência e vivência das Escrituras proporcionará a saúde do rebanho e o contraste com o mundo de Satanás.
Foi exatamente isso que Paulo alertou ao seu filho na fé, Timóteo, quando escreveu: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério.” (2 Tm 4: 1 5).
Esse poderoso texto, escrito pouco antes do martírio do apóstolo, mostra-nos três aspectos da pregação da Palavra diante do mundo:
1) Trata-se de uma exortação importantíssima. A ordem de Paulo é solene quando apela para o que mais tinha de precioso em sua fé. Primeiro o próprio Deus Pai Todo-Poderoso, seguido de seu Filho Jesus, o grande Juiz que a todos julgará no dia da manifestação e, por fim, o próprio Reino onde Paulo habitava e trabalhava como servo. A exortação traz um tom extremamente solene na expressão “conjuro-te”, termo que significa “testemunho-te”. Aqui encontramos o velho apóstolo lançando o olhar para a sua própria vida descrita a seguir quando diz: “Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.” Em outras palavras, a exortação apostólica começa dizendo: “com base no meu testemunho diante de Deus, seu Filho e o Reino: prega a Palavra!”
2) Trata-se de uma prática contra o paganismo. Paulo mostra a necessidade dessa pregação que deve ser insistente (significado de “insta”), deve ser em qualquer momento e deve atingir a integralidade do ser (significado de “corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina”). Os tempos seriam difíceis quando muitos, dentro da igreja, não ergueriam mais a Lei divina e, em seu lugar, colocariam fábulas que satisfizessem à cobiça. É nesse sentido que o apego inegociável à Palavra deve ocorrer. Nada pode ofuscar aquilo que Deus nos deixou como sua bendita e perfeita vontade. Nada, por menor e aparentemente inofensivo que pareça, pode encontrar morada em nosso coração e, conseqüentemente, na igreja. Tudo deve passar pelo crivo das Escrituras. Essa argumentação final não apenas exorta a vivência, mas o cumprimento do serviço dado por Deus, que no texto foi traduzido por ministério.
3) Trata-se de um contraste para com os traidores. Não basta apenas pregar essa Palavra, mas vivê-la totalmente. Como vimos no primeiro ponto, o próprio apóstolo evoca o seu testemunho, e agora encoraja Timóteo a demonstrar o seu. Não podemos tratar a Palavra como profissionais, mas como viventes cheios de temor e tremor, cheios de compromisso, cheios de amor.
Em suma, a célebre exortação de Paulo a Timóteo, feita solenemente, baseia-se na própria vida do apóstolo, no poder de Deus, na majestade de Cristo, na existência de seu Reino, na necessidade de se combater os mundanos, e no resultado pessoal que faz de nós sóbrios e trabalhadores na igreja. Portanto, é nossa responsabilidade viver, preservar e ensinar essa Palavra para que continuemos como um povo distinto do mundo, distinção demarcada pela presença bendita do Espírito Santo. Nesse aspecto enceramos a presente meditação com as palavras do apóstolo: Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo homem! (Rm 3: 4).
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