REFLEXÕES EM TEMPO DE ELEIÇÕES (3 de 4): EXAMINEM TUDO, FIQUEM COM O QUE É BOM – a Esquerda.


Pensar hoje na Esquerda ou na Direita é um caminho árduo por sua polissemia e hibridez quanto às práticas. Mas o que entendemos por Esquerda ou Direita? Quero tomar o modelo francês do século XVIII com sua Convention. Do lado direito se encontravam os girondinos com seus discursos em favor do Rei; ao centro estavam os que defendiam a burguesia e seus capitais simbólicos; e do lado esquerdo estavam os jacobinos que vociferavam em favor dos sans-culottes. Mas há outra designação que pode ser inspirada no embate ocorrido no século XIX entre o Romantismo alemão e o Iluminismo francês, ou seja, ser de direita é ser conservador, é olhar para o passado para viver o presente. Já ser de esquerda é desconsiderar o passado e olhar para o futuro sempre com o gérmen revolucionário. Creio que aqui  encontramos a inspiração para a designação “Partido de Esquerda” e “Partido de Direita”. E é nesta perspectiva que quero refletir, ressaltando muito mais o aspecto prático que o aspecto teórico, tentando driblar a concepção meramente empírica e pragmática.


Uma questão inicial importante: não podemos esquecer que tanto um como o outro, do ponto histórico, possuem as suas mazelas ao longo da História, pois se a Esquerda stalinista ou castrista foi e é despoticamente avassaladora; a Direita também possui os seus deslises. Assim sendo, vamos à proposta:

Qual o discurso mais utilizado para justificar o pensamento esquerdista? Como pessoas que se dizem cristãs sente-se seduzidos por esta forma de pensamento tão nociva? Destaco aqui apenas dois:

1) O discurso da sensibilidade para com os que sofrem sob a miséria e a falta de oportunidade. Os defensores do esquerdismo afirmam que Marx despertou o interesse pelos que possuíam somente a prole como um bem adquirido, os proletariados. Acrescentam ainda que a dialética marxista deu um passo adiante dos chamados socialistas utópicos, assim como derrocou o otimismo dialético hegeliano. Com isto preconizam que todos devem aprender a olhar os miseráveis com mais sensibilidade, descruzando os braços e partindo para as ações libertárias. O problema aqui é que o discurso é falacioso quando a prática mostra exatamente o contrário. Basta ver o que as nações socialistas desenvolveram dentro da inexistente visão humanitária. O que verdadeiramente fizeram foi esmagar os mais pobres, chacinar os miseráveis e oprimir os trabalhadores;

2) O discurso da luta pela justiça social. Este discurso afirma que a maioria dos cidadãos encontram-se acomodados quando em derredor há semelhantes que comem lixo ou que são explorados por sua força de trabalho. Afirmam que o socialismo busca prioritariamente a justiça social pelo processo de transformação social. Só que mais uma vez encontramos duas incoerências aqui: a primeira é que as sociedades sempre geraram grupos sociais humanitários que buscam acudir e dirimir o sofrimento causado pela pobreza e miséria, e fizeram isso embasados em outras representações que estão fora da esfera marxista. Segundo, mais uma vez o discurso destoa totalmente da realidade, pois as sociedades tipicamente socialistas nunca dirimiram a miséria, pelo contrário, aumentaram-na mastodonticamente. Nenhum pais socialista implantou a justiça social, ao contrário, a exploração sempre foi premeditada e imposta;

Seguindo mais em frente, porque devemos rechaçar a esquerda?

1) O espírito revolucionário que mata e espolia. Alguns partidários da Esquerda ainda utilizam a verborragia gotejante da ação violenta para derrocar o status quo do bicho papão, ou seja, os burgueses. Incentivam a violência gratuita e grotesca que não deve ter espaço em um estado tido como democrático. Nós cristãos devemos repelir este tipo de discurso, sabedores que a paz é um legado dos pacificadores. Além do que, tal teoria se tornou jurássica diante das transformações epistemológicas, econômicas e sociais;

2) O reducionismo escatológico. Um erro grave é pensar que a vida se restringe aqui nesta existência. Este é o legado da Esquerda que, mesmo se colocando como crédula, encerra seus desejos em um paraíso restrito às vitórias populares e ao ambiente das igualdades. Abreviar o futuro da humanidade a este mundo é a mais angustiante de todas as esperanças;

3) A generalização estruturante. A base da Esquerda é a visão da estrutura rígida e maniqueísta. Rotular uma burguesia coesa, destruidora e responsável por tudo que há de ruim na sociedade é insistir numa teoria que, penso eu, já deveria ter sido abandonada há muito tempo. Se o rico é egoísta, o pobre também o é; se o político é corrupto por utilizar a coisa pública em seu favor, o "flanelinha" que cobra uma taxa para vigiar o carro estacionado na calçada (coisa pública também) é corrupto tanto quanto. O mal da sociedade não são as riquezas, mas o coração do homem que é depravado por sua natureza pecaminosa. É por isso que devemos estar atentos ao canto da sereia que arrasta a esta visão equivocada e anti-bíblica. O problema do homem é a falta de Deus e o excesso de pecado, sem necessariamente ser o dinheiro ou a falta dele.

4) A libertinagem moral. Não podemos negar que a banalização da moral na sociedade é uma das características da esquerda. A relativização esquerdista daquilo que a Lei de Deus condena é algo rejeitável do ponto de vista das Escrituras. As novas opções oferecidas na área do matrimônio, do gênero, da sexualidade, da gestação, da liberdade de expressão, da religião, da fé etc. são desastrosas. Nesse contexto, os conservadores são execrados e tratados com absoluto desrespeito. Isso porque a esquerda é totalmente intolerante para quem está fora da sua esfera ideológica. E quanto a isso, nós devemos sempre nos contrapor às idéias ditas progressistas e de natureza humanista oferecidas pela esquerda. Ser cristão é ser anti-esquerdismo no que se refere à sua moralidade.

Concluindo, rotular ou estruturar uma prática ou uma representação social (e a política é, antes de qualquer coisa, uma prática e uma representação social) é cair na ingenuidade e no discurso reproduzido. A Esquerda não é totalmente o Diabo, como também não é o Anjo redentor. Ela possui erros e acertos que, com boa maturidade e equilíbrio, podem ser retidos ou rechaçados. Uma visão crítica da sociedade é salutar desde que não percamos a nossa referência única: a Palavra de Deus.

Sola Scriptura

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2 comentários:

Solano Portela disse...

Caro Alfredo:

Dentro dessa análise, com estilística primorosa, mas com uma simpatia contradita pela própria honestidade do texto, fico com a "direita", a qual, pelo menos, não tem a característica de se alinhar com posturas tão claramente anti-bíblicas, que deveriam revirar o estômago dos cristãos que prezam a Palavra, tais como: aborto, casamento de homossexuais, rejeição ao direito de propriedade, intervenção massiva na educação e em outros direitos individuais dos cidadãos, etc.

Um abraço,

Solano

Alfredo de Souza disse...

Querido Solano, eu também fico com a Direita, até porque não suporto o discurso jurássico da Esquerda, sobretudo a militante. Acredito que nesta matéria devemos sempre buscar a autocrítica e propor discursos plausíveis à sociedade que já está cansada da mesmice marxista.

Um abraço.

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