As manifestações que ocorrem no Brasil já são
consideradas como as maiores de todos os tempos quando milhares de pessoas saem
às ruas para reivindicar a diminuição do preço da passagem dos transportes
públicos, a erradicação da impunidade vivida na elite política, além da melhoria
das políticas públicas. Minha avaliação aqui será simples e, ao mesmo tempo,
abrangente para que pensemos um pouco sobre este momento.
Um forte aspecto que percebo nisso tudo é a
reafirmação da identidade “brasileira” construída. O próprio refrão entoado nas
ruas e nos estádios de futebol já corrobora esta prática ao dizer: “...sou brasileiro com muito orgulho...”
Esta atitude acontece numa pós-ditadura militar e, ao mesmo tempo, no embalo de
quase 10 anos de governo esquerdista que não ultrapassa o bolsa qualquer coisa
e que se mantém atrelado a uma memória sórdida e a uma prática extremamente
pluralista. Mesmo as atitudes de vandalismo, salvo as realizadas por meliantes,
demonstram o desejo de destruir a coisa pública por construírem nela o reflexo
da política esquerdista vil e canalha. A representação é clara: “o gigante que
desperta vai exterminar a corrupção e os desmandos”. Gigante versus pequenez. A
brasilidade passa a se definir como um bloco coeso e coerente diante da
pluralidade indefinida da esquerda doente e viciada. Esta é a identidade que se
constrói atualmente na “busca da certeza diante das incertezas.” Nesse ponto,
as manifestações não diferem dos demais fenômenos comuns às práticas sociais.
Outra avaliação que faço é o forte apelo ao
desabafo. É o “basta!” que se grita nas ruas contra a patuscada permanente da
política partidária. É o “chega!” para os hospitais sucateados, a educação
desvalorizada, as estradas esburacadas, tudo como resultado de uma elite
política ladra e corrupta que se elitiza cada vez mais. É o sofrimento de se
sentir extorquido nos impostos. Não por pagá-los, mas por perceber que o
retorno só ocorre aos infames das câmaras e dos palácios, pois aqui se paga
muito caro para enriquecer as finanças e os desmandos daqueles que há anos
deitam e rolam blindados pela maldita impunidade. De que adianta pagar imposto
como o que se paga no Canadá para se viver uma vida que se vive em Moçambique
ou na Nigéria? Nesse ponto, as manifestações são legítimas e saudáveis.
Infelizmente há os bandidos que destroem por puro
vandalismo, diferente daqueles que destroem por associar a coisa pública aos
políticos corruptos conforme argumentado acima. Todavia, ambos se tornam um
caso de polícia, requerendo sobre si a repressão forte. De nada adianta viver a
impunidade nesta esfera para protestar contra a impunidade vivida em outras
esferas. É, no mínimo, incoerente e contraditório. Nesse ponto, as
manifestações são ilegítimas e doentias.
É preciso pensar que a verdadeira mudança deve
ocorrer na transformação do modo como se faz política no Brasil. Hoje, para ser
candidato aos cargos, é necessário muito dinheiro e fortes conchavos com
aqueles que desejam apenas o poder e a preservação da farra. Há que se pensar
em alternativas que vão para além da esquerda doente e viciada. Tais mudanças
não se restringem às urnas como um fim em si mesmo. Mas votar em quem? As
mudanças estruturais ocorrerão com a democratização da oportunidade que
respeita a discordância, mesmo para com o que preserva antigos valores baseados
na honra, na justiça e na honestidade. Por exemplo, se há pessoas cujos valores
são baseados na Lei moral divina, isto deve ser respeitado e tolerado, além do
usufruto de oportunidades concedidas. O oportunismo deve ser rechaçado e a
mudança democrática deve ser construída. Nesse ponto, as manifestações podem
ser o início de uma mudança significativa e benéfica da atual conjuntura
política.
Por fim, concluímos sobre a ação soberana de Deus
sobre todos. Os crentes devem permanecer em oração para que as mudanças
necessárias e justas ocorram. Só ocorrerá a construção de uma democracia justa
e limpa se for da vontade do soberano Deus. Neste sentido, podemos até apoiar
ordeiramente tais manifestações para que a sociedade como um todo seja
beneficiada. A oração deve ser feita para que a paz e a justiça, oriundas do
trono da graça, sejam uma realidade entre nós. Nesse ponto, as manifestações
são uma bela oportunidade para a oração do crente ao soberano Senhor!
Sola Scriptura