Até a década de 1970 as liturgias utilizadas nos
cultos não apresentavam tantos problemas como os que existem hoje. Mesmo no
meio pentecostal, considerando as práticas culturais, não se via nada parecido
com o que se faz atualmente. Mas há cinquenta anos houve uma enxurrada de
esquisitices que começaram a desfigurar ainda mais o culto outrora
relativamente simples.
Até mesmo nas igrejas de tradição reformada já se
percebe a presença de práticas e costumes estranhos que nada têm a ver com as
Escrituras. Isto ocorre porque estas igrejas, embora teoricamente reformadas,
na prática utilizam o Princípio Normativo
em detrimento do Princípio Regulador,
este ensinado nos Símbolos de Fé.
Numa explanação rápida, Princípio Normativo, método proposto por Lutero, baseia-se em dois
aspectos. O primeiro, na afirmação de que aquilo que não é proibido nas
Escrituras é permitido no culto. Consequentemente temos o segundo que incentiva
a utilização dos quatro sentidos humanos por parte da igreja no momento da
adoração: a visão (aparatos e indumentária), o olfato (incenso), a audição (ouvir
a pregação) e a fala (cânticos, leituras e orações). É por este motivo que o
culto de tradição luterana é rico em rituais e na utilização de objetos
litúrgicos.
Já o Princípio
Regulador, este adotado pela tradição Reformada, afirma que aquilo que não
encontramos nas Escrituras deve ser proibido no culto. Para uma compreensão
melhor, vejamos o que diz a Confissão de Fé de Westminster sobre o assunto no
capítulo 21, item primeiro:
A luz da natureza
mostra que há um Deus que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz
bem a todos, e que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido
e servido de todo o coração, de toda a alma e de toda a força; mas o modo
aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão limitado
pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações e
invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer representação
visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.
Vejamos também o que afirma a Confissão Batista
Londrina, no capítulo 22, item primeiro diz:
A luz da
natureza mostra que existe um Deus, que tem senhorio e soberania sobre todos,
que é justo, bom, e faz o bem a todos; e que, portanto, deve ser temido, amado,
louvado, invocado, crido e servido, de todo o coração, de toda alma, e com
todas as forças. Mas a maneira aceitável de se cultuar o Deus verdadeiro é aquela
instituída por Ele mesmo, e que está bem delimitada por sua própria vontade
revelada, para que Deus não seja adorado de acordo com as imaginações e
invenções humanas, nem com as sugestões de Satanás, nem por meio de qualquer
representação visível ou qualquer outro modo não descrito nas Sagradas
Escrituras.
Portanto, o culto reformado utiliza apenas dois
sentidos humanos: a audição (ouvir a pregação) e a fala (cânticos, leituras e
orações). Muitos inconformados com esta simplicidade extrema dirão que os
sacramentos são manifestações que ensinam por meio da visão. De fato, isto é totalmente
verdadeiro. Todavia, quem instituiu os sacramentos foi o Senhor Jesus, por isso
devem ser realizados, lembrando que não há mais nada além dos sacramentos como
didática visual litúrgica, ou seja, a existência dos sacramentos não justifica
a inserção de outras ações visuais que o Senhor não determinou.
Neste sentido, embora haja exceções, muitas igrejas
reformadas no Brasil são muito mais influenciadas pela tradição luterana do que
pela tradição reformada. E para provar isso, trago apenas algumas práticas da
atualidade que passaram a fazer parte do culto, mas que não são ordenadas por
Deus nas Escrituras com respeito ao culto cristão.
1. A
indumentária: A vestimenta parece ocupar um lugar de destaque nos cultos
solenes de algumas igrejas quando o pregador deve aparatar-se para dirigir o
culto ou para expor as Sagradas Escrituras. Refiro-me ao uso obrigatório da
toga, da gola clerical ou do terno e gravata, pois caso não esteja assim
vestido, o liturgo e o pregador são proibidos de subir ao púlpito para
desempenhar o seu ministério. Nada contra estas vestimentas em si, são até
elegantes, também não se está defendendo aqui o relaxamento ou a displicência
no traje, pois há a necessidade de se estar decentemente trajado para a ocasião
do culto como forma de respeito ao Senhor Deus e aos demais presentes. O
problema é quando o liturgo e o pregador se destacam dos demais por aquilo que
está trajando. É claro que encontramos regiões no Brasil onde a utilização do
terno e gravata é bastante comum quando a maioria dos homens vai assim trajada
para adorar, neste caso, não há problema algum o pregador estar vestido assim
uma vez que não há distinção ou exclusão diante dos demais presentes na
congregação. O problema é quando vamos a certas regiões do Brasil onde o calor ou
os costumes locais impedem a utilização do terno e gravata, neste caso, o traje
se torna um elemento distintivo e até mesmo excludente. E isto é um equívoco
diante da simplicidade requerida no momento da adoração.
2. Avisos e
saudação aos visitantes: Em muitas igrejas são comuns os avisos e saudações
como parte da liturgia. Mas se pensarmos que o culto deve conter somente aquilo
que glorifica ao Senhor Deus pela centralidade de Cristo, pergunto: em que
adoramos a Cristo ao trazer informes e saudar os visitantes? Ninguém pode negar
a quebra do ritmo da adoração e da glorificação do Criador. Ninguém pode negar
que há a descentralização de Cristo para a centralização do homem. E isso em
nada glorifica a Deus no momento da liturgia.
3. Imagens
de fundo na projeção das músicas: Na projeção das músicas por meio do
projetor multimídia, imagens são utilizadas como “pano de fundo”. São lindas
paisagens, flores, plantas, pequenos animais, Bíblias abertas ou,
lamentavelmente, imagens de Cristo ou do Espírito Santo representado por uma
pomba (numa quebra frontal do segundo mandamento). Tais imagens tiram a atenção
de muitos que se desconcentram daquilo que estão fazendo. Em vez de focarem o
coração e a mente na adoração, se distraem ao admirar a beleza da imagem
projetada. Isto é uma quebra da concentração naquilo que é o principal quando a
distração surge por causa daquilo que é absolutamente desnecessário.
4. Pantomimas
e encenações: Muitos pastores amam aplicar a exposição das Escrituras
utilizando o recurso da pantomima ou do teatro sob a alegação de que a compreensão
da mensagem deve ser facilitada. Todavia, excetuando a ministração dos
sacramentos de Cristo, nada mais deve ser encenado no culto, uma vez que estas encenações
retiram a solenidade geradora do temor e do profundo respeito diante da presença
especial do Senhor Deus cultuado. Ou seja, o teatro e a pantomima são muito
mais entretenimento do que comunicação das Escrituras adequada ao culto solene.
5. Culto
Infantil: Outra prática estranha às Escrituras é o conhecido culto infantil.
A justificativa é uma só, a criança não pode assimilar a pregação e, ao mesmo
tempo, deve ser treinada a se comportar no culto dos adultos. Temos que
reconhecer que a presente justificativa para esta prática não é bíblica, mas psicopedagógica.
E esta imposição ocorre em detrimento da ordem do Senhor que deseja a presença
das crianças no culto solene inteiro, e não só das pequeninas, mas também das
que ainda mamam (2 Crônicas 20.13; Josué 8.35; Ne 12:43; Joel 2:15). Portanto,
retirar as crianças do culto para um lugar à parte é totalmente estranho ao
Evangelho.
Diante do exposto, quero concluir com duas afirmações.
Primeiro, desafio os defensores de algum item acima descrito para que
apresentem textos nas Escrituras Sagradas que justifiquem tais costumes. Lembrando
que o nosso princípio como crentes reformados é o Princípio Regulador (não faz parte do culto aquilo que Deus não
ordenou). Segundo, afirmar que o problema destas inserções ocorre porque se
convencionou que estas “em nada ferem o
objetivo principal da adoração, pelo contrário, auxiliam no decorrer da
liturgia” é um erro do ponto de vista da doutrina reformada. Ao contrário,
constataremos que as Escrituras e os Símbolos de Fé são violados naquilo que
regulam quando se insere aquilo que o Senhor não determinou.
Sejamos honestos, se somos confessionais, então
devemos ser criteriosos em tudo que fazemos no Reino de Deus, principalmente
quando reunimos a Igreja no dia do Senhor para adorá-lo.
Sola
Scriptura.