O dEUS-CORNUCÓPIA



Recentemente preguei no velório de um rapaz de trinta e dois anos que morrera em um acidente automobilístico. O Jovem, formado em Direito e instrutor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), era uma pessoa aparentemente feliz e realizada no início de sua promissora carreira. Mas naquele Domingo fatídico ele se arrumou, beijou sua jovem esposa grávida de sete meses, declarou o seu amor por ela, mandou um beijo à sua outra filhinha de seis anos e saiu às pressas por estar atrasado. Dois quarteirões à frente foi surpreendido por uma ultrapassagem na entrada de um viaduto. Assustado, desviou o carro que se chocou violentamente contra uma mureta de concreto. O impacto causou a fratura no pescoço e, consequentemente, a sua morte instantânea. No velório havia centenas de pessoas entre ex-colegas da faculdade, parentes, amigos da família e toda a corporação da PRF. Todos faziam coro com a jovem viúva católica que repetia: “Por que Deus levou meu marido, ele não tinha o direito de fazer isso... Que injustiça!”
Não preciso dizer sobre o grande desafio em pregar num ambiente como esse. Após meditar muito resolvi falar sobre o sofrimento e seus possíveis resultados com base no livro de Jó 42: 1 – 6. Mas algo preencheu a minha mente sobre essa cobrança desvalida contra o Senhor Deus. Reconheço e respeito a dor e sei o que é perder um ente querido, mas tal sofrimento não nos credencia a chamar a Deus de tirano, de injusto ou de impiedoso.
Diante desse triste cenário surge a indagação: por que as pessoas cobram tanto de Deus? Por que esperam nele sempre as satisfação pessoal? Por que toda a tragédia deve ser mascarada como atitudes diabólicas, como resultados da falta de fé ou como vindo da parte de um ser divino que desconhece o futuro, como querem insistir os teólogos relacionais? Em essência a resposta seria pelo fato do ser humano sempre buscar o conforto e nele estabelecer a sua felicidade. As pessoas sempre confundem bênção com benefícios imediatos da vida, e maldição com dificuldades da vida. Essa visão totalmente distorcida ocorre por essa busca desenfreada, quase hedonista, do bem estar como propósito número um da vida. Ser feliz é estar saudável, ser abençoado e estar abastado.
Nesse roldão encontramos as religiões oportunistas que massageiam a concupiscência alheia com promessas vazias pela falsificação do Evangelho de Cristo. São grupos que restringem o poder de Deus por colocá-lo ao inteiro serviço dos ávidos pela classificação social. Utilizam os rituais mais estranhos, forçando o Deus glorioso a se tornar um eterno deus-cornucópia cuja a única função é jorrar objetos e situações para preencher os desejos mais vis do coração humano. Por exemplo, quando a IURD diz que um caixote, representado como a Arca da Aliança, possui poder em si mesmo, e que as pessoas verão esse poder disponibilizado pelo simples toque das mãos é, no mínimo, paganismo (pelo flagrante fetichismo) e anticristianismo (por substituir a glória de Cristo por outro). O resultado é o recrudescimento das cobranças descabidas a Deus e as acusações quando o desejo é frustrado.
É nesse contexto que quero disponibilizar um texto que recebi de um membro da igreja que, em certa medida, estava envolvida no sofrimento da família supracitada. Seu nome é Taináh Mota, uma jovem de 24 anos, casada e que vive a sua segunda gravidez (na primeira perdeu o filho devido a um aborto espontâneo). Eu possuo a sua companhia desde quando ela tinha oito anos de idade. Por isso não posso ocultar a minha alegria em perceber uma ovelha tão madura no assunto, embora seja ainda tão nova. Espero que a sua mensagem sirva de edificação, consolo e desafio a todos que querem entender esse intrincado relacionamento entre o Criador e a criatura, relacionamento que traz sorriso, bonança e bem estar, mas que também traz choro, conflito e dificuldades. Eis o texto na íntegra:
“Quando acontecem tragédias em nossa vida é muito comum que culpemos a Deus. Só que, se analisarmos, a culpa só é de fato de Deus se a função Dele fosse garantir nosso bem estar. Essa é uma visão completamente equivocada, mas a maioria de nós vê a Deus dessa maneira. Ele está em seu sublime trono e ocupa os seus dias afastando o mal e providenciando bênçãos para a humanidade. Se prestarmos atenção nas músicas evangélicas atuais, tudo se resume à "suas promessas pra mim", "suas bênçãos sobre mim". Não que isso não seja realidade. A Bíblia promete, sim, vida bem sucedida, satisfação e bênçãos aos justos. Mas a ênfase nisto é tamanha que parece que essa é a função de Deus: nos proteger, não permitir tragédias e etc. Como resultado, quando chega o dia mal, nos decepcionamos com Deus, afinal, Ele não cumpriu o seu papel!! Que audácia da nossa parte! Pense bem, quantas vezes já questionamos a Deus por algo que ele não impediu?
Eu nunca passei por uma situação de morte na família. O máximo que me aconteceu foi um aborto espontâneo ano passado. Foi quando eu entendi: Deus não me deve nada! Ele não existe para realizar meus sonhos, satisfazer meus anseios. E ainda assim, ele usou akilo pro meu bem. Que Deus bondoso! Nós crentes temos uma dificuldade TREMENDA de entender o que é viver para a glória de Deus. O que eu diria é o extremo oposto do "Deus vive pra mim".
Nós vivemos pra Glória do Senhor, ou melhor, deveríamos viver. Isso é que é o pior. Não é Deus que não tem cumprido o seu papel, mas nós. Quanto mal testemunho não damos cada dia? Quantas atitudes que envergonham e maculam o nome de Deus os nosso colegas de trabalho e familiares já nos viram fazer? Eu não consigo nem contar...E depois disso temos a audácia de dizer: que Deus é esse? Ainda assim, Ele nos dá o seu amor e o seu conforto! Ele transforma tragédia em bênção! Ele transforma pranto em júbilo! E ele não tem que fazer isso. Faz por que ama. Faz por que escolheu amar pessoas que, apesar de salvas, envergonham o seu Santo nome todos os dias.
Obrigada, Senhor, pelo seu amor incondicional. E nos ensina a viver para a sua Glória!”
Sola Scriptura

UM NEGRO NA CASA BRANCA


O mundo ainda está atônito com o fenômeno Obama. O que parecia inusitado e até impossível aconteceu. Os Estados Unidos terão no ano que vem um presidente negro. E como se isso não bastasse, o futuro presidente faz parte de um clã queniano, possuía uma mãe desajustada, cresceu na Indonésia com o padrasto, professou o islamismo, foi criado posteriormente pela avó, na adolescência usou drogas e era o aluno problema no senior high school. Com a sua vitória nas urnas, que iconoclastia estamos presenciando na política do norte. Temos que concordar que o melancólico final do governo Bush fechou com chave de papelão para si mesmo (refiro-me, não a Obama, mas sim à rejeição popular).
Muitos perguntam o que se deve esperar de um presidente assim a partir do ano que vem. A maioria está otimista, até mesmo os que se identificam como inimigos dos Estados Unidos. Outros preferem esperar para ver. Nesse suspense eu não me atrevo a antecipar nada, isso só o tempo dirá. Por outro lado tentarei avaliar o perfil do futuro homem mais importante da política mundial.
Inicialmente, não posso negar que há algo de positivo em tudo isso. Refiro-me à aparente (diga-se de passagem) pá de cal jogada sobre a história de racismo que tanto envergonhou e emporcalhou aquela nação. Digo aparente porque não acredito que parte dos estadunidenses brancos tenham abandonado o seu mito de Gobineau. Tenho até a impressão de que Obama sofrerá atentados contra a sua vida, embora eu torça sinceramente para que isso nunca ocorra. Mesmo assim, a presença de um negro no executivo já é um importante indício da mudança ocorrida naquela nação. Aliás, embora Obama não se considere negro, e se identifique como “raça pós-moderna” (ele tem o direito de pensar dessa forma), ainda assim, houve um significativo avanço humanitário por lá.
Por outro lado, nem tudo são flores (tulipas negras de preferência). Muitas são as preocupações resultantes do processo eleitoral. Dentre elas destaco três aspectos referentes ao senador de Illinois e seus seguidores.
1. O fenômeno Obama tornou-se um tipo de personalismo. Ao longo da campanha presidencial, desde as prévias do Partido Democrata, houve a tendência de convergir toda realidade fundamental à pessoa de Obama. Todo o sistema político passou a se basear no líder recém evidenciado. Essa tendência possui a vocação de conceder poderes muito acima do convencional a uma única pessoa. Ironicamente, a maioria do Congresso é Democrata, o que avulta o processo na prática. Isso é preocupante pois esses fenômenos já são conhecidos nas terras baixas da América. Claro que Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e o casal Kirchner são gabarolas e fanfarrões, Obama é infinitamente mais sofisticado. Mas se não houver humildade suficiente em seu coração e mente, seu governo será perigoso e até dissimuladamente despótico, uma vez que a sua pessoa já personifica o governo. O resto só depende do tempo.
2. O fenômeno Obama é um governo de esquerda. Isso ocorre não só porque se trata do Partido Democrata, mas também pelas idéias progressistas de seu membro mais ilustre. As campanhas favoráveis ao aborto, ao casamento de pessoas do mesmo sexo, ao uso de células-tronco para futuras terapias, ao divórcio, à relativização da Lei divina etc. são marcas registradas desse futuro governo. Para mim isso é lamentável, pois subsidia e até incentiva práticas que corroem a vontade preceptiva de Deus. Uma significativa parcela dos estadunidenses são firmes e irremovíveis quanto à Lei do Senhor, mas a poderosa nação se caustifica do centro para fora. Valores morais desvalorizam-se gradativamente, fazendo dos Estados Unidos uma grande Califórnia. Nesse contexto acredito que Obama e sua maioria no Congresso irá rolar ladeira abaixo com tudo que há de precioso e correto naquela sociedade.
3. O fenômeno Obama apresenta-se como um tipo de messianismo. Há aqui uma sensível diferença para com o personalismo. Enquanto este converge todo o poder para o líder, aquele faz dele um provedor das esperanças populares. O mundo se dizia farto do jeito texano de ser de George W. Bush. Sua rejeição é histórica. Além disso, os graves problemas econômicos voltados às linhas de créditos recrudesceram ainda mais os opositores. Esse foi o cenário perfeito para que um "messias" pudesse assumir o governo. Pessoalmente creio que, no geral, McCain e sua mccainete, a governadora Sarah Palin, seriam melhores, tanto aos Estados Unidos, como ao Brasil. Mas a impopularidade do Partido Republicano chegou a extremos, criando no sistema de representações do povo a necessidade de um “salvador da pátria”. Algumas frases de efeito como “sim nós podemos”, “mudança, podemos crer nisso”, “Obama, tempo de mudança” ou “a mudança chegou à América” são sintomas e, ao mesmo tempo, alimento a esse messianismo estadunidense.
Concluo dizendo que o meu desejo é que tudo ocorra contra as circunstâncias e que minha análise esteja equivocada. Espero também que as complicações da vida pregressa de Obama estejam só no passado. Torço para que a maquiagem da campanha, que fez dele um bom moço, não tenha sido exagerada demais. Minha oração é que o Senhor Deus seja diretamente glorificado no próximo governo dos Estados Unidos. Somente assim teremos um tempo de tranqüilidade. Mas se minhas suspeitas procedem, teremos um avalanche de problemas de ordem moral, política e social com proporções mundiais.
Sola Scriptura

VIREI DOUTOR, E AGORA?


Após quatro anos de intensa pesquisa, pude concluir uma tese de 365 páginas sobre a história da Unevangelized Fields Mission. Nela discorro acerca da evangelização dos Waiwai, moradores na região do alto Essequibo, na então Guiana Inglesa. Temas como: conversão, letramento, encontros culturais, estratégias de evagelização e adoção foram abordados com paixão e rigor metodológico. Foi bom ouvir da banca, no dia 19 de agosto do corrente ano, os laudatórios acerca do trabalho final. Como resultado recebi da Universidade Federal do Rio de Janeiro o grau de Doutor.
Houve também um culto em ação de graças singular promovido pelo meu colega e pastor auxiliar, Rev. Heleno Montenegro Filho. Pude cantar com alegria “Deus, somente Deus” e ouvir a edificante mensagem do meu grande amigo (nos moldes de Provérbio 18: 24b), Rev. Marcos Fernandes de Freitas, sobre Jó 28, que trata da sabedoria divina em contraste com as conquistas humanas. Logo após o culto recebi uma singela homenagem que incluía a comemoração do meu aniversário. Vi ali, no mesmo espaço, colegas de ministério, colegas da universidade e muitas ovelhas amadas. Todos me felicitaram pelo ano a mais de vida e pelo doutorado concluído com êxito.
Esse pequeno relato serve apenas para contextualizar as indagações que se passam na minha mente. Há algumas reflexões sobre o que significa ser doutor. Qual o sentido de ter o nome ampliado e antecedido por duas letras – Dr. – além do título de professor e reverendo já concedidos.
Segundo a etmologia, o termo doutor vem do latim docere, que significa ensinar. Das outras sete definições diferentes, há a mais pujante que fala sobre o douto, o sábio e o erudito. De acordo com a academia, o título credencia a carreira de qualquer profissional, habilitando-o a executar e orientar pesquisas em uma determinada área do conhecimento. Há a liberdade de executá-las e orientá-las. Além disso, o doutorado é o ponto mais avançado da graduação, embora tenham criado recentemente o pós-doutorado, um tipo de crivo que ressalta as excelências em determinado assunto. Mas isso não concede titulação, ninguém é pós-doutor, trata-se apenas de um reconhecimento. O título de doutor pode ser adquirido de três maneiras: defesa de uma tese, notorius saber (casos restritíssimos) ou honoris causa. Há ainda os fraudulentos que compram o título ou plagiam trabalhos já publicados ou defendidos.
Aqui acho que cabe um questionamento: será doutor apenas os que são reconhecidos pela academia? Minha resposta imediata é: claro que não! Há outros casos em que o título é usado largamente.
No Brasil, por ordem de sua alteza, o Imperador Dom Pedro I, todo advogado, médico ou engenheiro deve ser reconhecido como doutor, aliás, a maioria faz questão de ser tratado como tal. Outros acreditam que todo ministro da Palavra merece o mesmo título. O Manual de Culto adotado pela Igreja Presbiteriana do Brasil, por ocasião da ordenação de alguém ao ministério pastoral, diz: “O Ministro da Palavra é chamado (...) Doutor, porque expõe a Palavra, e com sã doutrina admoesta e convence aos contradizentes.” (MC, p. 71). Nesse caso, todos os ministros expositores e doutrinadores devem ser reconhecidos como doutos.
Há também os brincalhões, como os meus cunhados, cunhadas e algumas ovelhas que sempre trataram os amigos como dotô. É bom ouvi-los dizendo “E aí, dotô?” ou como minha grande amiga Simone Quaresma que sempre me cumprimenta dizendo “diga, dotô?”
Os flanelinhas, engraxates, feirantes e vendedores ambulantes também reconhecem em todo freguês o título. “E aí doutor, vai comprar a mercadoria?” Assim são interpelados os consumidores em potencial. Portanto, há muitos doutores ao nosso redor, a polissemia é tão rica quanto diversificada.
Mas retornando ao ponto inicial, o que para mim significa esse título? Um colega da universidade, por ocasião da homenagem feita por minha igreja perguntou: “já se sente doutor?” Eu mesmo já brinquei comigo mesmo dizendo que saí da esfera do Senhor Jesus (mestre) e saltei para o covil de seus inimigos (os doutores da Lei). Todavia, pensando seriamente sobre o tema, creio que há quatro pontos a serem considerados quando se pensa nesse título acadêmico:
1) O doutorado é o reconhecimento pelo labor dispensado. Negar o brutal esforço para chegar a esse ponto da academia é ser, no mínimo, hipócrita. Há seis anos, ainda no início do mestrado, venho pesquisando, lendo, entrevistando e decifrando exaustivamente. Foram textos em inglês (a esmagadora maioria), outros em espanhol (considerado na UFRJ como língua mater), vi-me diante do francês e do italiano, debrucei-me sobre o grego neotestamentário, até o waiwai tive que analisar (nesse caso com a ajuda inestimável de Irene Benson, André Souza e Edson Too-Too Waiwai). Foram semanas de ausência, de solidão no lar, de viagens entre o Rio, Boa Vista e região do Mapuera. Foram horas de reflexão e composição. O título que recebi foi o reconhecimento por esse trabalho realizado. Não nego a alegria que senti quando a banca, em pé, solenemente, afirmou ter eu recebido o grau tão almejado. Foi e é importante esse título, e por ele desejo o respeito e o reconhecimento de meus pares;
2) O doutorado também é importânte no reino de Deus. No ano de 1985, em meu primeiro ano no Seminário, o querido amigo, Rev. Elias Medeiros, na época professor de Evangelismo, disse algo que me afetou profundamente. Ele afirmou que o meio protestante deveria possuir o maior número possível de mestres e doutores para que a voz vinda da igreja fosse considerada de igual modo como os discursos da Igreja Católica e de outras instituições. Eu concordo com isso. Esse título de “cidadão romano” fortalece o discurso diante de uma sociedade elitista e meritocrata. Não significa dizer que a voz dos que despossuem qualquer título acadêmico não contenha profundidade, inteligência ou relevância. A questão aqui não é quem fala, mas como ele é ouvido em determinados setores da sociedade. Para que as academias e os meios intelectuais pelo menos ouçam o que se está dizendo, o título é importante. Há vários porta-vozes na igreja. O grupo intelectual faz parte desse time multiforme. Assim como é importante o jardineiro, da mesma forma o pesquisador. Tudo e todos por Cristo e por sua Igreja. Além disso, menciono a importância e a contribuição da própria pesquisa nas mais diversas áreas, supondo que o resultado estará subordinado à visão bíblica, em se tratando de um crente fiel, conforme o próximo ponto.
3) O doutorado deve ser balizado numa cosmovisão correta. Minha linha de pesquisa é a História Cultural. Quem me conhece de perto sabe disso. Sigo a Teoria da Prática e sou fascinado pelos estudos que envolvem a cultura simbólica e cotidiana como tema. Rechaço a visão esquerdista e estruturante como metodologia. Acho o marxismo panfletário e chato, embora reconheça seu lugar no desenvolvimento epistemológico. Ao mesmo tempo, todos os meus pressupostos estão subordinados à cosmovisão reformada. Para mim é incoerente qualquer dicotomia metodológica do tipo: na academia sou laico, na igreja sou teológico. Isso não existe! Antes de ser doutor, sou teólogo bíblico, além de apreciar a teologia sistemática. Sou crente no Senhor Jesus e creio nos aspectos básicos que se alocam sob a soberania do Senhor Deus. A inspiração total das Escrituras, a veracidade não relativizada das narrativas e a inerrância doutrinária são o ponto absoluto de partida. Meu olhar para o mundo passa antes pelo trono do Altíssimo, a quem temo para ser sábio;
4) No doutorado, a nossa suficiência vem do Senhor. Quando alguém acha que é melhor que o seu semelhante por algo que possui, imediatamente ele se torna estrado dos pés de quem está ao seu redor. Muitas pessoas dizem a mim que sonham em se tornar um doutor. Eu respondo a elas dizendo que esse título não é um patamar para a vida, mas uma escolha profissional, um capital simbólico. Somente os que pensam em trabalhar na área da pesquisa e da docência é que devem se preocupar com isso. Logo, eu sei que não me tornei superior a ninguém com o título. Aliás, conheço as minhas limitações e procuro sempre desenvolver a auto-crítica, sem a qual corremos o risco de nos tornar pífios, impertinentes, boçais e ridículos. Meu pai sempre inculcou na minha mente o texto de 2 Coríntios 3: 5 que diz: "Não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus". O Senhor foi gracioso em fazer com que um pastorzinho fosse aclamado numa instituição como a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Todo o mérito é dele, em mim apenas resta o usufruto dessa maravilhosa e imerecida misericórdia.
Bem, acho que no momento é o que penso sobre esse importante título alcançado. Espero que o Reino seja abençoado com tudo isso e, o mais importante, que o Senhor cresça e eu diminua.
Sola Scriptura.

DE QUEM É A RESPONSABILIDADE?


Recentemente o Brasil acompanhou a dor de três casais que perderam o filho no momento em que estavam numa creche. O noticiário mostrou o sofrimento atroz e a busca de uma resposta para a tragédia impiedosa e desesperadora por parte dos pais. Como pai que sou sinto-me solidário para com essas famílias enlutadas.
Mas além da perplexidade, também refleti um pouco sobre o caso do pequeno Gabriel de 7 meses que possuía Refluxo Gastroesofágico, problema que provoca o vômito ou regurgitação do alimento. Era uma criança que requeria cuidados especiais e uma vigilância ininterrupta, principalmente quando estava dormindo. Não quero de forma nenhuma criminalizar os pais ou os funcionários da creche, isso cabe aos investigadores. Meu objetivo é pensar um pouco sobre de quem é a responsabilidade de cuidar de uma criança, principalmente nos primeiros anos de vida.
Hoje o mundo ocidental vive o frenesi do consumo fazendo com que o indivíduo busque mais e mais a prosperidade financeira. O desejo de ter para ser proporciona horas de trabalho exageradas, além de impulsionar a mulher ao mercado de trabalho juntamente com o marido. É aqui que esbarramos no dilema da criação dos filhos. É justo deixá-los a mercê das creches ou dos parentes próximos ou a responsabilidade cabe aos pais? Pensemos um pouco no que são os nossos filhos:
1. Filho é incompatível com o trabalho desenfreado. Não estou aqui condenando o trabalho pelo sustento. Até mesmo mães e pais solteiros ou divorciados precisam proporcionar o mínimo para a sobrevivência digna e honrada dos filhos. Mas acredito que não é correto abandoná-los em nome de encargos que tomam muitas horas do dia. Nesse contexto é que entra o papel da mãe como aquela que está próxima para proteger e criar. Infelizmente muitas mães sequer possuem um tempo reduzido com os filhos. O contato só ocorre quando a criança já está dormindo. Até mesmo os pais negligenciam o tempo de qualidade com a família em nome dos serões ou dos encontros com os amigos no final do expediente. A ausência certamente acarretará em problemas emocionais e sociais graves à criança no futuro.
2. Filho é prioridade das mães. Esse raciocínio é tão contundente que o Estado proporciona uma licença compulsória para que as mães possam exercer a maternidade sem interrupção. Muitas não sabem do sofrimento que os filhos vivem por conta da ausência diária que resulta num sentimento de desprezo. Quando se está diante da carreira e, ao mesmo tempo, da criação de um filho, não há como negar a prioridade deste filho acima das pretensões profissionais. Ninguém é obrigado a se tornar mãe, ninguém é obrigado a conceber, ninguém é obrigado a abandonar o trabalho para cuidar de crianças. Se alguém quer se dedicar ao trabalho e prosperar na vida financeira deve então, nesse caso, optar por não ter filhos. Se um casal procria, logo estão estabelecendo prioridades. Assim como Paulo afirmou que para o evangelista o melhor é continuar solteiro, eu afirmo que para as mulheres que preferem trabalhar na busca da realização pessoal ou para melhorar a renda do marido o melhor é não ter filhos. Parece uma afirmação dura, mas perceber o sofrimento de tantas crianças, adolescentes e jovens pela ausência dos pais, principalmente da mãe, isso sim é algo duro e chocante.
3. Filho é o nosso campo educacional. Muitos imaginam que a responsabilidade educacional do filho cabe à escola e à igreja. Isentam-se de ensiná-los a Lei do Senhor que direciona todo o olhar para o mundo em que vivemos. A cosmovisão cristã sempre é abafada pela mídia, pelo evolucionismo ateu e pela criação impessoal proporcionada pelas empregadas domésticas, creches ou professores. A disciplina, privilégio restritíssimo dos pais, é um bem negligenciado hoje em dia. Como o tempo com o filho é reduzido aos mirrados finais de semana, os pais, com crise de consciência, não aplicam a disciplina, ao contrário, oferecem uma tolerância prejudicial, desafeiçoada e desamorosa. Filhos que são entregues a si mesmos não desenvolvem o princípio de autoridade, noção que em muito prejudica o relacionamento com Deus. Não esqueçamos, a responsabilidade de evangelizar, de doutrinar, de transmitir conhecimento e de moralizar é prioritariamente dos pais. A igreja, a escola, o sábio conselho dos amigos e parentes são ferramentas periféricas que consolidam a educação no lar.
Eu sei que um texto como esse está na contramão da sociedade em que vivemos. Mas acredito que o futuro dos filhos dirá quem está com a razão. Não tenho medo de errar ao afirmar que vale muito mais um filho equilibrado e crente diante das dificuldades financeiras do que uma vida abastada com o filho desequilibrado e longe do Senhor. É por isso que a pergunta continua no ar: de quem é a responsabilidade?
Sola Scriptura.

O ESQUERDISMO E O EVANGELHO


Recentemente, um conhecido líder evangélico definiu-se ideologicamente da seguinte maneira: “Sou um pensador independente, de esquerda. Não acredito no neoliberalismo capitalista. Ele produz os excluídos. O Evangelho defende os pobres e os marginalizados". (conferir)
Causa-me espanto que um homem que se diz “de Deus” seja tão rápido em enfileirar-se nas trincheiras da teologia da libertação, como se ela se constituísse leitura fiel do Evangelho, sem, no entanto, aperceber-se das claras divergências entre ambos. Pelo menos foi o que ficou evidente.
Com base nesta percepção, gostaria de fazer as seguintes considerações:
1. O Evangelho não está restrito a uma classe social. Uma das pessoas mais mal compreendidas do mundo é o Senhor Jesus. Em seu nome muitos abusos foram e ainda são praticados. Um deles é restringi-lo à pobreza e à miséria. Na verdade, o Evangelho não defende a pobreza, ele defende unicamente a glória de Deus e a vitória de seu Filho para a salvação dos eleitos, sejam eles riquíssimos, medianos, pobres ou miseráveis financeiramente. Nesse contexto há cinco considerações importantes. Em primeiro lugar, Jesus recebeu e conviveu com ricos, além de freqüentar a casa dos publicanos, indivíduos censuráveis, não por terem recursos financeiros, mas pela maneira como enriqueceram. Em segundo lugar, o próprio conceito de pobreza não está restrito às posses materiais. Mt 5: 3 menciona acerca dos pobres de espírito, enquanto o próprio rei Davi, em meio à sua fortuna, afirmou no Sl 40:17: “Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim; tu és o meu amparo e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu!” Em terceiro lugar, a defesa bíblica dos pobres ocorre no contexto da Aliança de Deus com o seu povo, ou seja, é o pobre crente que recebe as promessas dos cuidados divinos para a sua penúria. Em quarto lugar, o problema levantado pelas Escrituras não estava na riqueza, mas no apego a ela que promovia o orgulho, o egoísmo e o desprezo pelos necessitados. Em quinto lugar, condicionar as Boas Novas aos pobres, portanto, é permitir que a falta de recursos seja, em si mesma, santificadora do homem. O Evangelho não defende os pobres nem os marginalizados, pois o pobre sem Cristo será condenado, assim como o rico com Cristo será salvo.
2. A esquerda é, em essência, contra a moralidade divina. A esquerda defende uma liberdade pecaminosa ao homem. Não importa se se trata do Democratic Party americano, do Bloco de Esquerda português, do Sozialdemokratische Partei Deutschlands alemão ou do PSOL brasileiro, o alvo principal é o mesmo. A luta em favor do aborto, do feminismo, do homossexualismo, do divórcio, da compartimentação radical da sociedade, do uso de células-tronco embrionárias etc. são claramente contra a Lei de Deus. Se, historicamente, alguns segmentos da direita cometeram abusos, os da esquerda, de igual modo, cometeram também. O que determina tal posição é o humanismo em detrimento do teísmo (o mesmo ocorre com a teologia relacional, o neopentecostalismo e, obviamente, a teologia da libertação).
3. Toda cúpula governamental é abastada. Este é outro ponto que os esquerdistas não entendem. Os líderes da esquerda clássica vivenciaram a opulência e o conforto financeiro diante da miséria social. O próprio Fidel Castro é um exemplo clássico disso, sem falar de Hugo Chávez ou Evo Morales. Todos estão encastelados devorando faisões enquanto seus patrícios morrem por migalhas. Mas não são apenas estes que vivenciam o usufruto de bens materiais, até mesmo os homens de Deus sérios que ocuparam cargos públicos gozaram da riqueza e do conforto como foi o caso de Davi, de Salomão, de José e de Daniel.
4. Cuidar dos pobres é uma parte do cumprimento da Lei. Há vários textos que alertam o crente quanto ao cuidado aos necessitados. Mas isto não ocorre para que haja uma transformação social radical. Isto é utopia. Aliás, “nunca deixará de haver pobres na terra” (Dt 15: 11). A responsabilidade do crente está em partilhar daquilo que Deus concede generosamente, pois nada é nosso, tudo é dele. A riqueza não deve embrutecer ou criar a sensação de auto-suficiência, pois em tudo dependemos da graça. Por isso, somos obrigados a servir ao próximo, inclusive com o bolso. É nesse contexto que o Evangelho promove mudanças na sociedade, embora isso não seja o alvo principal.
Além de tudo o que acima foi exposto, é preciso ressaltar que o esquerdismo manifesto na Teologia da Libertação lê as Escrituras com um programa de mudança social, isto é, a interpretação que ela faz do Evangelho pretende ser apenas uma justificativa para as práticas políticas voltadas à sociedade. Afinal, para a Teologia da Libertação, a leitura é uma “produção de sentido” onde leitor constrói o significado do texto.
Concluo dizendo que “ser de esquerda” e “ser cristão” estabelece uma grande contradição, cuja síntese – se é que isso exista – sempre prejudicará o Evangelho e contribuirá maciçamente para com a esquerda. Ser cristão é não pertencer ao mundo, é ser peregrino, é ser louco para com os inteligentes deste mundo.

SOLA SCRIPTURA
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