Quero terminar esta série sobre política refletindo um pouco sobre a Direita brasileira, ou melhor, o que tem sido a Direita no Brasil. Pensar esta questão significa relembrar o movimento militarizado ao longo da História do nosso país, é perceber como esta facção esteve, muitas vezes, encharcada de ignorância e pedantismo. A própria instauração da República foi um joguete onde alguns generais oscilavam no pêndulo do poder presidencial. O mesmo se pode pensar sobre a Ditadura Militar vivida entre as décadas de 60 e 80 quando as quarteladas construíram um estado burocrático destituído de um discurso conservador convincente.
Por outro lado, generalizar seria irresponsável, pois não nego a existência de uma Direita coerente que possui como meta a luta contra as teorias banais da Esquerda repetitiva e enfadonha em seu discurso (haja paciência para aguentar os discursos novecentista).
Embora seja tarefa difícil, quero dizer novamente que minha análise se baseia muito mais no aspecto prático que no teórico, sempre na tentativa de não ceder à concepção meramente empírica ou pragmática.
O que podemos aprender com a Direita?
1) Manutenção da liberdade religiosa. Não podemos negar que os movimentos de Direita sempre favoreceram a livre expressão religiosa. Mesmo em épocas difíceis das Ditaduras na América latina, a religião sempre fora protegida como uma manifestação legítima. Como cristão protestante, devo admitir os muitos benefícios à Igreja e seu povo desde a queda da Monarquia. Isso demonstra que a livre concorrência abrange muitos setores da sociedade por meio do maior slogan desde Hobbes, Locke, Montesquieu e o Contrato Social: a Liberdade do indivíduo;
2) A livre concorrência interna. Um dos fundamentos da Direita é a tolerância com a livre concorrência comercial. Mesmo que haja sanções contra produtos externos (daí a expressão “interna”), a liberdade de se abrir um negócio e prosperar é, teoricamente, possível. Isto não favorece apenas o empresário, mas também a população que pode optar pelo consumo baseado no custo/benefício. Tal ambiente beneficia a possibilidade de uma vida mais confortável e viável para se viver;
3) A particularização do indivíduo. Em menor ou maior grau a Direita sempre demonstrou vocação para reconhecer a individualidade em meio à sociedade. A visão estruturante nunca foi seu forte, sempre cedeu ao respeito pelo alheio. Desde o seu processo embrionário, o direito do cidadão é visto como meta a ser observada. Mesmo em meio a ditaduras violentas, os que não eram perseguidos possuíam a possibilidade de viver sua individualidade com facilidade sendo, ao mesmo tempo, movido ao respeito pela individualidade e privacidade alheia.
Agora, o que devemos recusar da Direita?
1) A falta de um discurso sociabilizado. Vivemos uma realidade triste e vexatória no Brasil que deveria nos envergonhar ao extremo. Refiro-me à pobreza e à miséria instaurada nos casebres, barracos, viadutos, ruas e sertões tupiniquins. Pela falta de um discurso conservador que valorize os vários segmentos sociais, a Direita brasileira sempre contribuiu para o vazio teórico que pudesse fazer frente contra o pensamento de esquerda. Sinto que seria possível uma resposta às teorias marxistas e libertárias feita com responsabilidade, inteligência e sensibilidade. Há muitos direitistas que possuem capacidade para isso. Também arrisco em dizer que este vazio contribui na adesão impensável das teorias marxistas e no enlameamento revolucionário abalroador do sistema por parte dos jovens que ingressam as Universidades;
2) Proteção injusta às oligarquias e aos grupos econômicos. Infelizmente a postura da Direita no Brasil é oportunista, trazendo o ranço do protecionismo sobre os que mais podem financeiramente. Aqui vivemos o enriquecimento pela especulação, pelos juros e pelas sangrias econômicas. Ser detentor de grande capital financeiro é sinônimo de vantagem e proteção. Quanto menos se tem, mais riscos e ameaças, quanto mais ameaças, mais pobreza e miséria. Este terrível círculo não atinge o abastado encastelado pelo poder político. Em suma: ser pobre é ser desprotegido.
3) Favorecimento do individualismo egoísta. Este ponto pode ser compreendido pela frase “eu estando bem, o resto não me interessa!”. O resultado é o isolamento que nos aloca do lado de cá da vidraça do nosso carro no cruzamento, do grande e psicodélico shopping center, da fortificada residência condominizada, da lanchonete abarrotada de fast-food, do restaurante agradável e sofisticado e por aí vai. Preocupa-me muito os jovens e adolescentes da chamada “classe média” em nossa presente época que se excluem cada vez mais da situação real que assola o país em nome das etiquetas, do culto ao corpo e do “american way”.
Quero concluir dizendo que a crítica formulada pela Esquerda contra a Direita é muito mais ideológica e panfletária que analítica, além de injusta, é claro! A intenção maldosa é transformar os direitistas em verdadeiras aberrações. Como eu afirmei acima, generalizar é ser irresponsável. Ninguém deve se envergonhar por ser de Direita, pelo contrário, deve se preocupar em demonstrar que há um discurso possível e razoável para situação que vivemos no mundo. Acredito que uma boa autocrítica seguida de propostas podem demonstrar caminhos viáveis na política e na sociedade. As mazelas devem ser rechaçadas, demonstrando que a parte da Direita ignorante brasileira não pode ser utilizada como arma contra esta postura.
Todavia insisto que as posições ideológicas sempre apresentarão pontos positivos e pontos negativos pelo simples fato de serem humanas e temporais. Há, portanto, um caminho sobremodo excelente: a visão da Palavra de Deus e sua Lei inefável. Esta sim, sempre conterá o incontestável e seguro parâmetro sobre o indivíduo e a sociedade que carecem do amor e da misericórdia divinos. Afinal de contas, nossa vida aqui passa como um relâmpago. Lembremos que o mais importante é o que virá no início da nossa estada no céu.
Sola Scriptura.
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