Recentemente, um conhecido líder evangélico definiu-se ideologicamente da seguinte maneira: “Sou um pensador independente, de esquerda. Não acredito no neoliberalismo capitalista. Ele produz os excluídos. O Evangelho defende os pobres e os marginalizados". (
conferir)
Causa-me espanto que um homem que se diz “de Deus” seja tão rápido em enfileirar-se nas trincheiras da teologia da libertação, como se ela se constituísse leitura fiel do Evangelho, sem, no entanto, aperceber-se das claras divergências entre ambos. Pelo menos foi o que ficou evidente.
Com base nesta percepção, gostaria de fazer as seguintes considerações:
1. O Evangelho não está restrito a uma classe social. Uma das pessoas mais mal compreendidas do mundo é o Senhor Jesus. Em seu nome muitos abusos foram e ainda são praticados. Um deles é restringi-lo à pobreza e à miséria. Na verdade, o Evangelho não defende a pobreza, ele defende unicamente a glória de Deus e a vitória de seu Filho para a salvação dos eleitos, sejam eles riquíssimos, medianos, pobres ou miseráveis financeiramente. Nesse contexto há cinco considerações importantes. Em primeiro lugar, Jesus recebeu e conviveu com ricos, além de freqüentar a casa dos publicanos, indivíduos censuráveis, não por terem recursos financeiros, mas pela maneira como enriqueceram. Em segundo lugar, o próprio conceito de pobreza não está restrito às posses materiais. Mt 5: 3 menciona acerca dos pobres de espírito, enquanto o próprio rei Davi, em meio à sua fortuna, afirmou no Sl 40:17: “Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim; tu és o meu amparo e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu!” Em terceiro lugar, a defesa bíblica dos pobres ocorre no contexto da Aliança de Deus com o seu povo, ou seja, é o pobre crente que recebe as promessas dos cuidados divinos para a sua penúria. Em quarto lugar, o problema levantado pelas Escrituras não estava na riqueza, mas no apego a ela que promovia o orgulho, o egoísmo e o desprezo pelos necessitados. Em quinto lugar, condicionar as Boas Novas aos pobres, portanto, é permitir que a falta de recursos seja, em si mesma, santificadora do homem. O Evangelho não defende os pobres nem os marginalizados, pois o pobre sem Cristo será condenado, assim como o rico com Cristo será salvo.
2. A esquerda é, em essência, contra a moralidade divina. A esquerda defende uma liberdade pecaminosa ao homem. Não importa se se trata do Democratic Party americano, do Bloco de Esquerda português, do Sozialdemokratische Partei Deutschlands alemão ou do PSOL brasileiro, o alvo principal é o mesmo. A luta em favor do aborto, do feminismo, do homossexualismo, do divórcio, da compartimentação radical da sociedade, do uso de células-tronco embrionárias etc. são claramente contra a Lei de Deus. Se, historicamente, alguns segmentos da direita cometeram abusos, os da esquerda, de igual modo, cometeram também. O que determina tal posição é o humanismo em detrimento do teísmo (o mesmo ocorre com a teologia relacional, o neopentecostalismo e, obviamente, a teologia da libertação).
3. Toda cúpula governamental é abastada. Este é outro ponto que os esquerdistas não entendem. Os líderes da esquerda clássica vivenciaram a opulência e o conforto financeiro diante da miséria social. O próprio Fidel Castro é um exemplo clássico disso, sem falar de Hugo Chávez ou Evo Morales. Todos estão encastelados devorando faisões enquanto seus patrícios morrem por migalhas. Mas não são apenas estes que vivenciam o usufruto de bens materiais, até mesmo os homens de Deus sérios que ocuparam cargos públicos gozaram da riqueza e do conforto como foi o caso de Davi, de Salomão, de José e de Daniel.
4. Cuidar dos pobres é uma parte do cumprimento da Lei. Há vários textos que alertam o crente quanto ao cuidado aos necessitados. Mas isto não ocorre para que haja uma transformação social radical. Isto é utopia. Aliás, “nunca deixará de haver pobres na terra” (Dt 15: 11). A responsabilidade do crente está em partilhar daquilo que Deus concede generosamente, pois nada é nosso, tudo é dele. A riqueza não deve embrutecer ou criar a sensação de auto-suficiência, pois em tudo dependemos da graça. Por isso, somos obrigados a servir ao próximo, inclusive com o bolso. É nesse contexto que o Evangelho promove mudanças na sociedade, embora isso não seja o alvo principal.
Além de tudo o que acima foi exposto, é preciso ressaltar que o esquerdismo manifesto na Teologia da Libertação lê as Escrituras com um programa de mudança social, isto é, a interpretação que ela faz do Evangelho pretende ser apenas uma justificativa para as práticas políticas voltadas à sociedade. Afinal, para a Teologia da Libertação, a leitura é uma “produção de sentido” onde leitor constrói o significado do texto.
Concluo dizendo que “ser de esquerda” e “ser cristão” estabelece uma grande contradição, cuja síntese – se é que isso exista – sempre prejudicará o Evangelho e contribuirá maciçamente para com a esquerda. Ser cristão é não pertencer ao mundo, é ser peregrino, é ser louco para com os inteligentes deste mundo.
SOLA SCRIPTURA
10 comentários:
Alfredo,
Parabéns. Muito perspicaz, esclarecedor e direto!
Abraços
Menino...Quer ganhar muito inimigo, você, né???? Que bom voltar a ler seus textos! Depois te passo os nomes de outros "cabras" esquerdistas, e que invariávelmente são também liberais...será coincidência???
Queridos Augustus e Simone(?), obrigado pelo comentário. É verdade, sempre que alguém se move para a esquerda possui vocação ao liberalismo. É o que temo com relação ao "conhecido líder evangélico" que anda citando os poetas, os filósofos e os intelectuais em detrimento das Escrituras. É preocupante.
Caro Alfredo:
Apreciei seu retorno e texto sobre o Gondim. Realmente, o alinhamento de facção política com o cristianismo é muito perigoso. Temos que primar por uma posição de independência ao mesmo tempo em que oramos por coragem para defendermos valores e princípios que se harmonizam com a Palavra de Deus, independentemente de onde e em que facção a Graça Comum de Deus os alocou nas sociedades dos homens.
Abs
Solano
Solano, excelente post. Como sempre foi ao longo da caminhada humana, precisamos bradar sobre a nossa posição sob a santa Lei, pois tudo o mais secará pelo pelo hálito do Senhor. Somente a sua Palavra permanece para sempre (Is 40: 6 - 8).
Um forte abraço.
Alfredo.
Gostei desta frase
"Ser cristão é não pertencer ao mundo, é ser peregrino, é ser louco para com os inteligentes deste mundo."
Quanto ao restante há controvérsias...
O que não impede de desejar-te uma boa semana e esperar encontrar-nos para amadurecermos juntos nossos conceitos.
fraternalmente,
Rogério
Uma boa semana para você também Rogério.
Alfredo.
Caro Alfredo, a paz...
É ótimo e gratificante ver alguém com seu perfil agindo como um visionário, remando contra a maré, quando muitos já se deram por vencidos.
É ótimo ver alguém que tem em Lula, apesar do que o louco senso comum lhe outorga, um homem que age meticulosamente em prol de dar ao PT um projeto de governo para 30 ou 40 anos.
É ótimo encontrar alguém que sabe que expressões como: "O Brasil não se envolve em problemas internos de nenhum país", para proteger as atrocidades de Cuba, e de Chavez, na Venezuela, são apenas "chavões" sem eco, fato que a atitude em Honduras (Embaixada brasileira) desmacarou rapidinho.
É ótimo encontrar alguém que vê como o PT luta ferozmente para "botar na cadeia, os mensaleiros do Distrito Federal, os mensaleiros de Minas Gerais, etc", NADA FEZ para por na cadeia os mensaleiros do PT, durante o mega escândalo do mensalão em Brasília, nas barbas do "companheiro" Lula, que "não sabia de nada".
É ótimo encontrar alguém que faz a leitura de Lula apenas como um homem comum, que teve a sorte de pegar um país arrumado, e que agora, no final do mandato, que por tudo a perder com uma política internacional que está tirando todo o legado histórico do Brasil de um país de paz e amigo de Israel. É só ver os recentes casos de amor do Brasil (Lula) com o Irã e Jordânia, tradicionais inimigos de Israel e as críticas que ele fez à postura israelense no Oriente Médio, outra maneira dele dizer "que não se envolve em problemas internos dos outros países"...
Tenho mais para escrever, mas estou cansado...
Parabéns por tudo..
Deus continue a abençoálo...
Ah, já estou seguindo seu blog. Se me der a honra de seguir o meu, serei grato..
Nos laços do Calvário,
Prof Damasceno
www.profdamasceno.blogspot.com
Caro Prof. Damasceno, muito boa a sua anáfora.
Abraço.
Deveríamos crer segundo esses argumentos que os Cristãos não são contraditórias quando são de direita. Penso que dizer que Cristo está mais próximo da direita ou da esquerda é sempre um equívoco por se tratar de disputas de projetos de sociedades humanas e não do Reino de Deus. Desqualificar a esquerda em detrimento da direita é outro equívoco grave. Se a esquerda tem bandeiras que chocam com o evangelho sob uma perspectiva moral, principalmente sexual, a direita por outro lado reproduz valores individualistas, racistas, homofóbicas, além de sempre fazer escolhas econômicas que ampliam as desigualdades sociais. Basta ver quem ta apoiando e quem votou na PL da Terceirização
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