Hoje aconteceu o que muitos estão chamando de “o casamento do século”. A cerimônia foi vista por um terço – isso mesmo, um terço – da população deste planeta. Gente que se acotovelou nas margens do trajeto feito pelo casal encantado, sem contar os que acamparam literalmente para garantir um bom lugar. O casamento foi caro. Só para ornamentar a famosa abadia de Westminster foram gastos meio milhão de reais, fora outros gastos com a segurança, a pompa, a festa etc.
Para mim foi fútil toda expectativa criada ao redor do mundo com relação ao casamento real. Nada contra os novos duques de Cambridge, William e Kate, mas acredito que o momento deveria pertencer apenas aos súditos britânicos, ao mesmo tempo em que deveria ser tratado pelo resto do mundo como uma notícia dos bastidores da família real. Todavia não foi assim que aconteceu, ao contrário, quase todo a população mundial, incluindo o povo tupiniquim daqui, celebrou o casamento como se fosse um acontecimento universal. Todos os povos se tornaram, naquele momento, súditos da realeza britânica.
Diante deste fenômeno incontestável, como avaliar tal sentimento social? Essa avaliação é relativamente simples. O presente mundo globalizado tenta se afirmar por um momento de fama e glória. Para as pessoas, tudo hoje em dia deve ser transformado em um evento espetacular. Não é à toa que os mais sórdidos sentimentos do coração humano se deliciam quando pessoas são confinadas em uma casa-jaula repleta de câmeras que proporcionam a possibilidade de contemplar os conflitos gerados pelo estresse da convivência. Atualmente, até mesmo um enterro é concluído com um caloroso aplauso ao morto em sepultamento – lembremos que o aplauso é a manifestação que comunica a satisfação diante de um evento espetacular.
Infelizmente este espírito do presente século já invadiu as igrejas dos nossos dias. Muitos cultos são transformados em um evento espetacular por meio da música que, longe de promover a adoração, promove o sentimentalismo e o desejo de dançar; ou por meio dos muitos aplausos dados após uma música ou pregação que, longe de glorificar a Deus, promove a pessoa humana; ou por meio das encenações rítmicas de dançarinos amadores que, longe de manifestar um ato genuíno de adoração, apresentam coreografias que são um horror; ou ainda por meio do pregador que, em seu zanzar de um lado para o outro, longe de expor as Escrituras, emite profecias, adivinhações, anedotas e palavras do gênero que corrompem e destroem o foco central: o conhecimento e a obediência à Lei de Deus. Em outras palavras, culto bíblico virou sinônimo de chatice a ato entediante, pregador fiel virou gente ultrapassada e sem amor, enquanto o culto-evento-espetacular é a motivação do momento. Afinal, não foi isso que o povo no deserto fez ao realizar um evento ao bezerro de ouro em detrimento do tédio que a demora de Moisés em voltar causava?
Quando tratamos desse frenesi em transformar tudo em um evento espetacular na esfera laica, o máximo que podemos opinar é quanto à decadência humana que tenta preencher o vazio e o estresse do coração por meio da fabricação fútil do glamour no intuito de dar algum sentido à vida. Mas quando tais modismos contaminam a igreja, o resultado é odioso, pois paganiza o que há de mais precioso nessa terra: a glória que deve ser dada somente ao Senhor Deus.
Hoje é muito difícil encontrar um culto limpo que centralize apenas a pessoa do Senhor Jesus e nada mais. Também é muito difícil encontrar um líder ou pregador que repita as palavras de João Batista contidas no Evangelho de João 3: 30, e conduza o seu ministério alicerçado na humildade e na discrição. Afinal de contas, quem não quer ser a bola da vez?
Concluindo, eu não sei ao certo se o casal encantado de Buckingham desejou ou forjou toda a fama do casamento, mas que eles gostaram, disso eu quase não tenho dúvidas. E como é triste perceber que há líderes que, embora não tentam transformar a sua pregação ou ministério em um evento, eles se sentem confortáveis diante da reação bajuladora daqueles que estão ao seu redor. Meu desejo do fundo do coração é o de que tenhamos cada vez mais igrejas e líderes que não tentem transformar a sua vida em um show, e nem mesmo se envaideçam com atitudes de outrem que promovam este sentimento devastador.
Que o Senhor Deus, o único a ser aclamado, adorado e glorificado na Igreja e no mundo, tenha piedade de todos nós.
Sola Scriptura.
2 comentários:
Duda, você disse tudo o que estava "engasgado" em mim. Obrigado, rs...
Eu também fiquei impressionado em ver vários canais por assinatura promoveram séries sobre esse tema! As pessoas querem ver o glamour e se sentirem parte desse acontecimento, chamado de "O EVENTO DO SÉCULO"!! Que absurdo!
Por outro lado, há também um "bolão" de apostas quanto ao tempo que a relação durará. A maior aposta até agora é de 3 anos. Pra mim já está claro que o povo quer o glamour, a pompa e crer temporariamente num contos de fadas, mas sem essa de "e foram felizes para sempre...". Se trata de um sintoma da infelicidade que está presente em muitos corações. Para mim esse acontecimento não passa de uma distração que deixa mais evidente o desespero de corações sem Deus, que precisam (mesmo que por um breve momento) de uma linda (e cara) ilusão.
Excelente texto, Duda!!
Valeu, meu velho amigo.
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