REFLEXÕES EM TEMPO DE ELEIÇÕES (4 de 4): EXAMINEM TUDO, FIQUEM COM O QUE É BOM - a Direita.

 Quero terminar esta série sobre política refletindo um pouco sobre a Direita brasileira, ou melhor, o que tem sido a Direita no Brasil. Pensar esta questão significa relembrar o movimento militarizado ao longo da História do nosso país, é perceber como esta facção esteve, muitas vezes, encharcada de ignorância e pedantismo. A própria instauração da República foi um joguete onde alguns generais oscilavam no pêndulo do poder presidencial. O mesmo se pode pensar sobre a Ditadura Militar vivida entre as décadas de 60 e 80 quando as quarteladas construíram um estado burocrático destituído de um discurso conservador convincente.

Por outro lado, generalizar seria irresponsável, pois não nego a existência de uma Direita coerente que possui como meta a luta contra as teorias banais da Esquerda repetitiva e enfadonha em seu discurso (haja paciência para aguentar os discursos novecentista).

Embora seja tarefa difícil, quero dizer novamente que minha análise se baseia muito mais no aspecto prático que no teórico, sempre na tentativa de não ceder à concepção meramente empírica ou pragmática.

O que podemos aprender com a Direita?

1) Manutenção da liberdade religiosa. Não podemos negar que os movimentos de Direita sempre favoreceram a livre expressão religiosa. Mesmo em épocas difíceis das Ditaduras na América latina, a religião sempre fora protegida como uma manifestação legítima. Como cristão protestante, devo admitir os muitos benefícios à Igreja e seu povo desde a queda da Monarquia. Isso demonstra que a livre concorrência abrange muitos setores da sociedade por meio do maior slogan desde Hobbes, Locke, Montesquieu e o Contrato Social: a Liberdade do indivíduo;

2) A livre concorrência interna. Um dos fundamentos da Direita é a tolerância com a livre concorrência comercial. Mesmo que haja sanções contra produtos externos (daí a expressão “interna”), a liberdade de se abrir um negócio e prosperar é, teoricamente, possível. Isto não favorece apenas o empresário, mas também a população que pode optar pelo consumo baseado no custo/benefício. Tal ambiente beneficia a possibilidade de uma vida mais confortável e viável para se viver;

3) A particularização do indivíduo. Em menor ou maior grau a Direita sempre demonstrou vocação para reconhecer a individualidade em meio à sociedade. A visão estruturante nunca foi seu forte, sempre cedeu ao respeito pelo alheio. Desde o seu processo embrionário, o direito do cidadão é visto como meta a ser observada. Mesmo em meio a ditaduras violentas, os que não eram perseguidos possuíam a possibilidade de viver sua individualidade com facilidade sendo, ao mesmo tempo, movido ao respeito pela individualidade e privacidade alheia.

Agora, o que devemos recusar da Direita?

1) A falta de um discurso sociabilizado. Vivemos uma realidade triste e vexatória no Brasil que deveria nos envergonhar ao extremo. Refiro-me à pobreza e à miséria instaurada nos casebres, barracos, viadutos, ruas e sertões tupiniquins. Pela falta de um discurso conservador que valorize os vários segmentos sociais, a Direita brasileira sempre contribuiu para o vazio teórico que pudesse fazer frente contra o pensamento de esquerda. Sinto que seria possível uma resposta às teorias marxistas e libertárias feita com responsabilidade, inteligência e sensibilidade. Há muitos direitistas que possuem capacidade para isso. Também arrisco em dizer que este vazio contribui na adesão impensável das teorias marxistas e no enlameamento revolucionário abalroador do sistema por parte dos jovens que ingressam as Universidades;

2) Proteção injusta às oligarquias e aos grupos econômicos. Infelizmente a postura da Direita no Brasil é oportunista, trazendo o ranço do protecionismo sobre os que mais podem financeiramente. Aqui vivemos o enriquecimento pela especulação, pelos juros e pelas sangrias econômicas. Ser detentor de grande capital financeiro é sinônimo de vantagem e proteção. Quanto menos se tem, mais riscos e ameaças, quanto mais ameaças, mais pobreza e miséria. Este terrível círculo não atinge o abastado encastelado pelo poder político. Em suma: ser pobre é ser desprotegido.

3) Favorecimento do individualismo egoísta. Este ponto pode ser compreendido pela frase “eu estando bem, o resto não me interessa!”. O resultado é o isolamento que nos aloca do lado de cá da vidraça do nosso carro no cruzamento, do grande e psicodélico shopping center, da fortificada residência condominizada, da lanchonete abarrotada de fast-food, do restaurante agradável e sofisticado e por aí vai. Preocupa-me muito os jovens e adolescentes da chamada “classe média” em nossa presente época que se excluem cada vez mais da situação real que assola o país em nome das etiquetas, do culto ao corpo e do “american way”.

Quero concluir dizendo que a crítica formulada pela Esquerda contra a Direita é muito mais ideológica e panfletária que analítica, além de injusta, é claro! A intenção maldosa é transformar os direitistas em verdadeiras aberrações. Como eu afirmei acima, generalizar é ser irresponsável. Ninguém deve se envergonhar por ser de Direita, pelo contrário, deve se preocupar em demonstrar que há um discurso possível e razoável para situação que vivemos no mundo. Acredito que uma boa autocrítica seguida de propostas podem demonstrar caminhos viáveis na política e na sociedade. As mazelas devem ser rechaçadas, demonstrando que a parte da Direita ignorante brasileira não pode ser utilizada como arma contra esta postura.

Todavia insisto que as posições ideológicas sempre apresentarão pontos positivos e pontos negativos pelo simples fato de serem humanas e temporais. Há, portanto, um caminho sobremodo excelente: a visão da Palavra de Deus e sua Lei inefável. Esta sim, sempre conterá o incontestável e seguro parâmetro sobre o indivíduo e a sociedade que carecem do amor e da misericórdia divinos. Afinal de contas, nossa vida aqui passa como um relâmpago. Lembremos que o mais importante é o que virá no início da nossa estada no céu.

Sola ScripturaPosted by Picasa

O dEUS DAS VÍSCERAS, O dEUS DO ABISMO!

 Recentemente li dois artigos escritos por E. R. Kivitz em seu Blog “Outra Espiritualidade” que muito me chamaram a atenção . De início não posso negar a honestidade do autor em se associar ao subjetivismo pós-iluminista muito em moda hoje. Em sua inflamada crítica à Teologia Reformada, ele se agrega (sem nenhum constrangimento) à escritores que produziram o que eu chamo de lixo letrificado. São pessoas da laia de Marx, Nietzsche, Freud e Sartre. Sem contar os “outros caras do tipo” que fizeram minha mente vaguear por Michel Foucault, Wilhelm Reich, Claude Alzon, Jacques Lacan e por aí vai. Surpreendeu-me a forma como tais autores foram harmonizados em suas propostas teóricas quando, na verdade, travaram batalhas epistemológicas colossais.

O assunto central já é conhecido de todos por aquilo que se chama Teísmo Aberto, porém os artigos citados trazem uma colherada a mais ao asseverar que pessoas crédulas no que está em 1 Crônicas 29: 10 – 19 são: alienadas, covardes e infantis. Se esta afirmação leviana atingisse apenas pessoas ínfimas e desconhecidas como eu, tudo estaria bem. O problema é que pessoas muito melhores foram atingidas. Dentre elas cito o Apóstolo Paulo que ousou afirmar: “Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? ‘Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: Por que me fizeste assim?’”. Ou Davi quando escreveu: ”Todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir”. Nabucodonosor foi reduzido a um tolo quando exclamou: “Todos os povos da terra são como nada diante dele. Ele age como lhe agrada com os exércitos dos céus e com os habitantes da terra. Ninguém é capaz de resistir à sua mão ou dizer-lhe: ‘O que fizeste?’”. E Jó a um insano ao declarar diante da sua tragédia: “O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor”. Até o Salvador Jesus foi afrontado por dizer: “Não se vendem dois pardais por uma moedinha? Contudo, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do Pai de vocês. Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados.” Minha indignação cresce quando contrasto estas palavras do Senhor com a afirmação: “Muita gente procura em Deus o pai que nunca teve e ou gostaria de ter tido, isto é, aquele protetor e provedor incondicional, para quem se corre quando a vida faz careta.”. Embora haja ironia e desprezo por parte de Kivitz, foi assim que Deus se revelou, foi assim que Jesus o apresentou!

Quanto ao comentário “Não são poucos os que se apegam ao ‘fator Deus’ em busca de consolo para sua infelicidade na existência e sobrevivem do sonho do paraíso pós-morte, deixando a história entregue aos oportunistas”, não vejo como alguém pode “entregar” a história aos oportunistas por uma (pseudo) passividade paradisíaca. Aliás, esse discurso marxista com relação à História já passou do obsoleto, chegando às raias do inaceitável, pois a História não é um ente que se entrega a um espertalhão, mas é uma simples construção da memória. Em outras palavras, História não se faz no cotidiano cultural, mas se constrói por meio de pesquisa como atividade majoritariamente acadêmica. O historicismo hegeliano precisa ser exorcizado juntamente com a metodologia dialética estruturada no pensamento socialista. Alé disso, bem ao contrário do que é insinuado, eu desejo ouvir na eternidade: “Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo”. Aleluia, nada posso fazer por este paraíso, pois o Deus soberano o preparou completamente há muito tempo.

Com a afirmação “[Deus] manipulava todas as circunstâncias da minha vida como um tapeceiro que corta fios e dá nós no emaranhado do avesso do tapete, para revelar a bela paisagem ao final do processo, capaz de encantar todos aqueles que olham pelo lado certo”, Kivitz transforma Romanos 8 em uma grande trapaça. Eu, ao contrário, acredito numa soberania que ultrapassa a minha mente. E nenhuma ‘metanóiakivitziana (“expansão de consciência”) fará com que eu alcance esta suprema divindade do Criador.

Vejo problema também quando o articulista afirma que Nietzsche, Marx, Freud e Sartre lutaram, não contra Deus, mas contra a religião somente. Reificar a religião protestante é atividade de cientistas sociais ateus que desprezam qualquer conhecimento revelado objetivamente. Nietzsche, por exemplo, apregoava o surgimento do super-homem que suprimiria o escravo-homem. Tomar a idéia de um Deus objetivo neste contexto seria, no mínimo, paradoxal. Marx esperava uma sociedade sem classes (pobre utopia) em detrimento da escatologia transcendental. Tomar a idéia de um Deus objetivo neste contexto seria, no mínimo, ilógico. Freud acreditava no que ele mesmo chamou de “mal estar da civilização”, ou seja, um tipo de sublimação cultural que fazia do indivíduo um re-direcionador da sexualidade. Tomar a idéia de um Deus objetivo neste contexto seria, no mínimo, imoral. Sartre contradisse o existencialismo cristão (quanto à sua metafísica transcrita) com as três fases denominadas: desamparo, angústia e desespero, tidas como características da existência em contraposição à essência (basta lembrar o impagável exemplo do ‘cortador de papéis’). Tomar a idéia de um Deus objetivo neste contexto seria, no mínimo, incoerente. Logo, tais produtores de lixo letrificado estavam na onda do ateísmo que se propagou a partir do século XIX. Sim, seus canhões se voltaram contra Deus, até porque, não concebo a revelação divina fora da esfera do cristianismo, da Igreja ou do corpo de Cristo na terra.

A meu ver, o Teísmo Aberto conduz, no final das contas, o indivíduo a um desespero abissal pelo fato de ele conviver com uma divindade que não é capaz de guiá-lo ou de agir soberanamente. Pensar que o meu futuro e o futuro dos meus filhos estão lançados à própria sorte é, no mínimo, angustiante. Talvez seja por este motivo que Kivitz cede à lógica Reformada ao dizer: “Descanso no fato de que, apesar de Deus não ser a causa primeira de tudo quanto me acontece, não há qualquer coisa que venha me acontecer que esteja fora do seu conhecimento, controle e cuidado.” Embora haja aqui um contraste com a doutrina da Providência por retirar de Deus o status de causa primeira, salta aos olhos a necessidade de se ter uma divindade que, de uma forma ou de outra, é a mesma pregada pelos Pais Apostólicos, por Agostinho, por Calvino e pela Teologia Reformada.

Concluo dizendo que os textos analisados não escapam à subjetividade visceral peculiar a todos os que defendem a Teologia Relacional como proposta que retira das vísceras um deus estranho à revelação textual das Escrituras. É por isso que eu prefiro conhecer o Criador por meio da sua bendita Palavra que revela o suficiente à minha vida de cristão e de servo eleito que crê na soberania divina, na providência teísta e na majestade absoluta de Deus. Neste caso, até mesmo Aristóteles, com sua teoria do Motor Imóvel, conseguiu se aproximar da Verdade. Benefício que não ocorre com os defensores de um deus fraco e passional semelhante aos deuses do monte Olimpo. Quanto a mim, fico com Aristóteles, fico muito mais com as Escrituras.

Que Deus seja Deus!

Sola Scriptura Posted by Picasa
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...