“Quando te assentares a comer com um governador, atenta bem para aquele que está diante de ti; mete uma faca à tua garganta, se és homem glutão. Não cobices os seus delicados manjares, porque são comidas enganadoras. Não te fatigues para seres rico; não apliques nisso a tua inteligência. Porventura, fitarás os olhos naquilo que não é nada? Pois, certamente, a riqueza fará para si asas, como a águia que voa pelos céus. Não comas o pão do invejoso, nem cobices os seus delicados manjares. Porque, como imagina em sua alma, assim ele é; ele te diz: Come e bebe; mas o seu coração não está contigo. Vomitarás o bocado que comeste e perderás as tuas suaves palavras.” (Pv 23: 1 – 8).
Estamos em época de eleições no Brasil, momento propício para fazermos um balanço sobre o nosso papel como cidadãos dos céus que residem neste mundo. Ao pensar neste assunto acredito que um dos grandes problemas culturais que encontramos na sociedade brasileira é a mania de querer tirar vantagem em tudo. Nesse caso, dos políticos que estão coreografando diante de nós. Muitos brasileiros estão dispostos a votar em alguém pela troca de benefícios na busca do favorecimento próprio, familiar, eclesiástico ou, no máximo, denominacional. Neste espetáculo vergonhoso, a visão do todo se deteriora ante a avareza e o oportunismo. Para muitos, tirar proveito sempre foi a palavra de ordem na delicada relação entre cidadão e político. Pensando nisso, quero refletir um pouco sobre este assunto tendo como base o Provérbio sapiencial supracitado. Há três aspectos importantes a mencionar.
Em primeiro lugar, devemos conhecer aquele que detém o poder e o seu objeto de barganha. Há a advertência para que prestemos atenção àquele que está nos seduzindo para o seu benefício na manutenção do poder. Devemos estar atentos àqueles que desejam o poder, e não às suas ofertas, pois servem apenas para ludibriar a nossa mente do questionamento mais importante em todo o processo, ou seja: “quem é, de fato, o indivíduo diante de mim”. Aqui está um ponto crucial, ou seja, a análise daquele que quer deter o poder em detrimento das suas ofertas. A sabedoria está em não ofuscar a mente com o banquete da demagogia ou do favorecimento, embora esse seja o objetivo maior de quem deseja o poder político sobre nós.
Em segundo lugar, devemos cultivar o controle sobre o desejo desenfreado do favorecimento. Muitos lutam pela aquisição de bens materiais não importando os meios. Estão dispostos a trocar o próprio voto por favores que vão desde alguns tijolos até cargos comissionados promissores. Todos os meios precisam ser usados (veja a metáfora da faca na garganta) para evitar o vexame da concupiscência. Além do que, os bens podem bater asas, fazendo-me perceber que tudo não passou de inveja e tolice. A integridade pessoal não pode estar à venda, mesmo que o preço oferecido seja extremamente tentador. A honra é impagável!
Em terceiro e último lugar, devemos saber que a grande parte dos poderosos é falsa e interesseira. Na maioria dos que tentam ganhar o nosso voto, encontramos a falsidade peculiar àquele que barganha. Seu olhar sobre nós mensura cada oferta doada para posterior cobrança. Não é de coração, mas de interesse. A metáfora do vômito aponta para o momento em que as lisonjas perdem o sentido, pois se nos deixarmos seduzir devemos saber de antemão que tudo terminará no asco do produto regurgitado, o belo aparente se torna nojento e vergonhoso.
Esta reflexão é salutar, principalmente em nossa cultura onde se vende voto por doações dos bens públicos. Aliás, a apropriação indevida da coisa pública é o grande câncer que paira sobre a sociedade. Nós que somos cristãos devemos impedir que a sedução nos transforme em um semelhante ao político vil e inescrupuloso. O desejo de se dar bem é a armadilha mordaz diante de nós. Que nossa maturidade avalie aquele que tenta nos convencer do voto para que sejamos honestos e impagáveis nas nossas convicções e escolhas. Lembremo-nos que o político não deve favorecer a nossa vida particular em detrimento da sociedade. Mesmo que pensemos no favorecimento de uma denominação em particular, mas isso não pode sufocar o bem público maior. Sejamos maduros, sejamos crentes, sejamos honestos, SEJAMOS DIFERENTES!
Próximo artigo: REFLEXÕES EM TEMPO DE ELEIÇÃO (2 de 4): Lidando com os políticos – Igreja e Sociedade
Um comentário:
Parabéns! gostei da matéria e acrescento para o final: "Enquanto, após a venda dos votos, os que vencem desfrutam do suor e da escravidão do trabalho de quem também não participou do fato".Misericórdia... por esses, inclusive os "cristãos" que escandalizam o Reino de Deus, o Pai Criador, O Filho que vive e reina de geração a geração e do Espírito Santo que está presente.Retiram a oportunidade de propagação do evangelho visto que a incredulidade de muitos gentios ficam mais acentuada. Não pensam no Juízo final, abs
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