ENFRENTANDO
O TEMA
O assunto sobre o papel da mulher na
sociedade como um todo, incluindo a Igreja e o lar, não é simples de se tratar.
Discussão polêmica, o assunto tem suscitado debates acalorados incluindo acusações
injustas quando alguns afirmam que o machismo e a falta de consideração, e não
as Escrituras, são a grande referência do tema para aqueles que buscam ser mais
criteriosos ao vetar toda e qualquer liderança feminina sobre homens. Os que
assim pensam sequer concedem um tratamento mais aprofundado e equânime. Falando
nisso, como eu já expressei em outros artigos, o machismo é um pecado covarde
que afronta a santidade e o propósito de Deus ao relacionamento entre um homem
e uma mulher. Reduzir esta mulher à condição de objeto, fazendo com que seja tratada
como propriedade de alguém é desumano e criminoso, é pecaminoso. E contrariando
este pecado, as Escrituras apresentam o lugar da mulher e do homem diante de
Cristo conforme encontramos em Gálatas 3.25-28:
Mas, tendo vindo a fé, já não
permanecemos subordinados ao aio. Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a
fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo
vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem
liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.
O mesmo é dito no contexto da intimidade
do casal em 1Coríntios
7.3,4:
O marido conceda à esposa o
que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher
não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também,
semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a
mulher.
Homem é mulher são iguais segundo os dois
contextos tratados pelos textos acima. Todavia, o convívio entre o homem e a
mulher não se limita a dois estes ambientes apenas. Quando tratamos sobre a função
de cada um, não há dúvidas da existência de diferenças estabelecidas na criação
antes da inserção do pecado por nossos primeiros pais. Na economia[1] divina, assim como se
exige a submissão dos filhos aos pais, pois o contrário seria um absurdo, da
mesma forma a mulher se constitui como auxiliadora ao homem que lidera.
Quando Paulo parece enfrentar o problema
diante de algumas mulheres que tentavam burlar esta regra, seu argumento é a ordem
da criação. Se em momentos diferentes ele usa a imposição da lei em 1Coríntios
14.34,35 e o processo de entrada do pecado no Éden em 1Timóteo 2.14, o
argumento criacional está presente em ambas as vezes em que o assunto é tratado:
Porque, na verdade, o homem
não deve cobrir a cabeça, por ser ele imagem e glória de Deus, mas a mulher é
glória do homem. Porque o homem não foi feito da mulher, e sim a mulher, do
homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, e sim a
mulher, por causa do homem. Portanto, deve a mulher, por causa dos anjos,
trazer véu na cabeça, como sinal de autoridade. (1Coríntios 7.7-10)
Porque, primeiro, foi formado
Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu
em transgressão.
(1Timóteo 2.13,14)
Agora vejamos, se a submissão da mulher
como doutrina bíblica é consenso, então surge a pergunta: em que contexto
aplicamos este princípio? Estaria esta funcionalidade restrita ao lar somente?
Podemos aplicar este princípio à sociedade como um todo ou apenas à Igreja? Até
que ponto as mudanças culturais da modernidade devem interferir neste assunto?
Essa matéria não é tão fácil, mas eu me
atrevo a discuti-la de acordo com aquilo que creio ser a revelação da vontade de
Deus nas Escrituras sob a perspectiva de que a cosmovisão bíblica se aplica a
toda sociedade e não apenas a alguns setores do Reino de Deus. Também quero ser
honesto em dizer que minhas afirmações são diretamente influenciadas pela interpretação
que faço das Escrituras conforme o compêndio oferecido pela Teologia Reformada.
A aplicação da funcionalidade existente
entre o homem-líder e a mulher-submissa deve ser aplicada a todos os seres
humanos por dois motivos simples. Primeiro, o argumento de Paulo sobre o
assunto se baseia na criação, momento em que, pelo pacto das obras, o Criador
revela os seus mandatos para os seres humanos. Vejamos o que diz Gênesis
2.15,18
Tomou,
pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o
guardar(...) Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só;
far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.
Em segundo lugar, o termo cosmovisão
significa visão de mundo, regras que se aplicam a todo contexto humano, o ideal
para toda sociedade. Como exemplo disto trago outra cosmovisão muito conhecida,
principalmente no contexto escolar e acadêmico, o marxismo. É notório que esta
doutrina, baseada em questões econômicas, grassam suas ideias em todas as áreas
do conhecimento e das práticas humanas. Não há um espaço sequer da condição
humana onde o marxismo não tente decifrar e interferir. E o que significa esta
ampla abordagem doutrinária? Significa ter coerência com relação por se tratar
de uma cosmovisão vivida e imposta. A mesma coerência deve ocorrer quando se
trata da cosmovisão bíblica uma vez que não há como fragmentá-la, não há como
estabelecer áreas distintas: Igreja e lar distintos do restante da sociedade. A
Lei de Deus é para todos, embora somente os eleitos convertidos tenham amor por
ela. Ou se tem uma visão de mundo ou se tem uma visão das partes, fraturada,
fragmentada. E, caso haja apenas uma visão das partes, o que vai prevalecer, no
final das contas, é o relativismo, mesmo que disfarçado.
ABORDANDO
AS FALÁCIAS
Quero apresentar o que chamo de as cinco
falácias relacionadas às práticas femininas. Não quero dizer com isso que os
defensores de algumas ou de todas estas falácias são sempre intencionalmente mentirosos
ou desonestos. O que afirmo é que estas pessoas se baseiam em argumentos frágeis
e inconsistentes embora lógicos. São pessoas bem intencionadas, mas que, a meu
ver, estão equivocadas. As cinco falácias que me refiro são: A mulher pode
pregar sob a autoridade do pastor. A mulher pode exercer o ofício de diaconisa.
A mulher pode dirigir a liturgia do culto. A mulher pode exercer autoridade sobre
homens na esfera civil. A mulher pode ensinar adultos numa classe bíblica.
Tratemos, então, de cada uma delas:
Primeira falácia: A mulher pode pregar sob a autoridade do
pastor.
Este argumento é muito utilizado para justificar a pregação
feminina no culto solene. Seus defensores se baseiam no que Paulo diz em
1Coríntios 11.5:
Toda
mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça sem véu desonra a sua própria
cabeça, porque é como se a tivesse rapada.
Há dois pontos que devem ser considerados
aqui. Em primeiro lugar, o assunto tratado por Paulo é sobre a utilização do
véu no culto solene e não sobre quem deve pregar na igreja. Sobre se a mulher pode
ou não profetizar será tratado mais a frente no capítulo 14 onde este tema é o
ponto central (em paralelo com o dom de línguas). Em segundo lugar, não há
nesta passagem uma ordem direta, pois esta também virá no mencionado capítulo
14.34,35. Em terceiro e último lugar, quando nos deparamos com um assunto
aparentemente contraditório, a regra da interpretação é clara: as Escrituras explicam
as Escrituras. Ou seja, a clareza de outros textos ajuda na compreensão e
interpretação de afirmações menos claras. É como afirma a Confissão de Fé de Westminter:
A regra infalível de interpretação da
Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão sobre o
verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é
múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros
textos que falem mais claramente.[2]
Como exemplo, citarei o comentário de
Calvino sobre esta passagem. O reformador escreveu:
Parece-me, no entanto, dispensável Paulo
proibir a mulher de profetizar com a cabeça descoberta, uma vez que o faz num
outro momento (1Timóteo 2:12) quando veta terminantemente as mulheres de falar
na Igreja. Para o apóstolo, portanto, não era permitido às mulheres o
profetizar, mesmo com a cabeça coberta. Neste caso, torna-se desnecessário aqui
o prolongamento da discussão sobre o uso do véu. Logo, concluo que, ao condenar
uma coisa, não significa que o apóstolo tenha aprovando outra, pois quando há a
reprovação das mulheres profetizarem com a cabeça descoberta, não há, ao mesmo
tempo, a permissão para que o façam sob outras circunstâncias. Paulo está
apenas adiando a reprovação do erro para outra passagem, ou seja, 1Coríntios
14. Não há nada de errado nesta afirmação, pois atende ao fato de que o
apóstolo exigia a modéstia das mulheres – não só no local onde se encontrava a
Igreja reunida, como também em qualquer outro ajuntamento digno, seja de
senhoras, seja de homens, como acontecia de vez em quando no interior dos lares.[3]
Não fica dúvida de que este modo de
interpretar o trecho de Paulo em 1Coríntios 11.5 anula qualquer tentativa de se
justificar a pregação feminina no culto solene, mesmo sob o pretexto de que a
suposta pregadora esteja debaixo da autoridade de um pastor[4]. Afinal de contas, se uma
mulher, sob a justificativa de que está debaixo da autoridade da liderança da
igreja, prega a Palavra, ela exercerá inequivocamente autoridade sobre os
demais ouvintes, não importando se são homens, mulheres, crianças ou líderes.
Ela exercerá autoridade de homem, prática condenada por Paulo em 1Timóteo 2.12
quando diz: “E
não permito que a mulher (...) exerça autoridade de homem...” A fragilidade do argumento em favor da
pregação feminina está no fato de que a mulher, em última instância, exercerá
autoridade sobre seus ouvintes, contrariando o ensino claro do apóstolo Paulo a
respeito deste assunto.
Conclusão: não existe, segundo as
Escrituras, nenhuma condição que autorize a mulher pregar no culto solene, nem
mesmo 1Coríntios 11.5.
Segunda falácia: A mulher pode exercer o ofício
de diaconisa.
Há uma grande diferença entre o ofício
diaconal e a prática diaconal. O ofício diaconal transforma um crente em um oficial
da igreja por meio da imposição de mãos, o que demanda certa autoridade sobre
os demais crentes. A prática diaconal pode ser exercida por qualquer pessoa,
seja homem ou mulher.
Agir como diácono é agir como quem serve.
Neste sentido, o Novo Testamento reconhece algumas mulheres que serviam a
Cristo e à Igreja (Mateus 27.55; Marcos 15.40,41; Lucas 8.2,3; 10.40; João
12.2; Romanos 16.1 etc.; os verbos trazem o significado de “agir como diácono”). Embora estas servas
de Deus tenham agido de forma diaconal, não há uma menção sequer de que tenham
sido consagradas ao ofício diaconal, uma vez que esta função só poderia ser
realizada por homens. Isto fica claro quando Paulo traz as características do
homem que deveria exercer este o ofício, tendo, inclusive uma esposa que o auxiliasse
com toda submissão e modéstia, características requeridas a todas as mulheres crentes.
Em 1Timóteo 3.8-13, Paulo os chama de diácono os homens crentes candidatos ao ofício, mas quando trata
das mulheres crentes, ele as identifica com o termo mulheres, além do fato de que a expressão: “Da mesma sorte, quanto a mulheres, é
necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em
tudo.” antecede imediatamente à recomendação que
trata da família do candidato ao ofício diaconal: “O diácono seja marido de uma só mulher e governe bem seus filhos e a
própria casa.” Se há uma ligação entre os termos mulheres do verso 11 e mulher do verso 12, logo Paulo está
recomendando que a esposa do candidato ao ofício diaconal o auxilie no futuro
ministério sem, contudo, ter sobre ela o oficialato.
Se assim for, parece-nos antibíblico uma mulher exercer o cargo
de oficiala dentro da igreja. Conclusão: nenhuma irmã pode ser consagrada ao
ministério diaconal pela imposição de mãos, nem ser vista como diaconisa dentro
daquilo que o termo significa, embora não seja proibida de servir à Igreja com
submissão e modéstia.
Terceira falácia: A mulher pode dirigir a liturgia do culto.
Um dos costumes mais disseminados nas igrejas hoje em dia é o
conhecido Ministério de Louvor. Este
costume tem seu início no final da década de 1960 e se fortaleceu a partir da
segunda metade da década de 1970. Mas é na década de 1980 que há uma explosão
do chamado Grupo de Louvor fazendo
com que muitas igrejas-comunidades nasçam embasadas unicamente nesta prática
musical em detrimento, muitas vezes, da pregação fiel da Palavra. Nesta
inversão das prioridades cúlticas, a música passa a ser o centro e não mais a
exposição fiel das Escrituras.
Dentro deste contexto, vitalizado pelo comércio e
consequente proliferação das antigas Fitas K7, discos de vinil, CDs e, mais recentemente,
o DVD, o Blue-Ray e o MP3, foi criado o cargo de Ministro de Louvor, isto é, do dirigente que possui a
responsabilidade de ministrar à igreja presente entre uma música e outra.
Ocorre que este cargo passou a ser ocupado, tanto por homens como por mulheres.
E mesmo que o momento de cânticos do chamado Grupo de Louvor no culto seja apenas uma pequena parte do tempo
total, neste momento mulheres passam a dirigir a liturgia incluindo as
ministrações exortativas e didáticas.
Deixo claro que minha questão não é discutir aqui sobre modelos
ou formas de liturgia[5],
reservo isto para outro momento, minha questão aqui é discutir sobre o fato das
mulheres estarem dirigindo a liturgia, ou parte dela, sob o pretexto de que são
ministras ou simplesmente dirigentes de louvor. Muitos defensores desta prática
dizem que estas dirigentes agem sob a autoridade do presbítero ou do pastor da
igreja. Bem, a contra-argumentação segue na mesma direção daquilo que foi
exposto no item primeiro, ou seja, mesmo que haja a justificativa de que o
lugar da dirigente está sob a autoridade da liderança, ainda assim, esta
dirigente exercerá autoridade sobre os demais presentes, incluindo a própria
liderança.
Paulo, em 1Timóteo 2.12, ordena que a mulher está proibida
de exercer a autoridade destinada aos homens. Isto inclui, por inferência, a
direção total ou parcial da liturgia, pois desde o Velho Testamento, o culto
sempre foi dirigido por homens como responsabilidade dada por Deus, e não há
nenhuma afirmação no Novo Testamento que modifique este princípio. Conclusão: o
dirigente principal do culto solene, que eu prefiro chamar de liturgo, deve ser
somente um homem habilitado para tal.
Quarta falácia: A mulher pode exercer autoridade sobre homens na
esfera civil.
Este talvez seja o ponto mais controverso entre os crentes
que afirmam subscrever a Teologia Reformada, incluindo aqueles que defendem o
cultivo e disseminação de uma cosmovisão bíblica. Este tema não é novo, eu
mesmo já escrevi sobre este assunto falando acerca da impossibilidade de uma
mulher assumir o cargo da presidência da república. Todavia, desejo aqui
ampliar a discussão e acrescentar toda e qualquer posição de autoridade exercida
por uma mulher sobre homens, quer na política, quer no trabalho ou em qualquer
outro ambiente da sociedade que exista para além da Igreja e do lar.
Já argumentei no início deste texto que a funcionalidade
entre o homem e a mulher foi determinada nos mandatos divinos contidos no pacto
das obras antes de o pecado entrar na humanidade, haja vista que Paulo embasa
seu argumento sobre o homem-líder e a mulher-submissa na criação antes da
queda, o que significa que tais mandatos são para a sociedade como um todo não
apenas para parte dela como a igreja ou o ambiente familiar.
Em meu argumento quero utilizar dois textos da Palavra de
Deus. O primeiro é a narrativa de Débora e de Baraque quando nesta exceção
soberana do Senhor Deus aconteceu a desonra deste homem. Isto pode ser visto
nas palavras de Débora em Juízes 4.9 ao discorrer sobre a libertação do povo de
Deus por meio da ação de Baraque que, covardemente, afirma que só iria para o
campo de batalha acompanhado por ela:
Certamente,
irei contigo, porém não será tua a honra da investida que empreendes; pois às
mãos de uma mulher o SENHOR entregará a Sísera. E saiu Débora e se foi com
Baraque para Quedes.
A humilhação não ocorre somente porque Baraque roga para
que Débora o acompanhe ao campo de batalha, ocorre também porque Sísera morre,
não pela mão de um homem guerreiro, mas pela mão de outra mulher, Jael. A
desonra dos homens representados por Baraque é clara demonstrando que o mesmo
ocorre quando mulheres assumem o papel que aos homens pertence.
Com relação ao cargo de juíza ocupado por Débora, é
importante mencionar que uma pessoa nesse tempo só era vista como juiz sobre o
povo após ser reconhecido como libertador por meio de ações militares. Isto é,
primeiro este alguém deveria vencer uma batalha e vencer os inimigos, assumindo
a posição de libertador do povo de Israel para, em seguida, ser visto como juiz
capaz de julgar as causas do povo. O caso de Débora é totalmente sui generis, uma absoluta exceção, pois
primeiro ela julga para depois participar da batalha cujo objetivo é a
libertação do povo contra a coalizão cananéia. Por esta linha de interpretação,
Débora desejava que Baraque assumisse este posto de juiz ao incentivá-lo para a
batalha, mas a atitude de Baraque retira esta honra de sobre si, trazendo a
desonra, uma vez que não confiou em Deus, mas numa mulher.
O
segundo texto que trago o texto de Isaías 3.1,8,9,11-14, que diz:
Porque eis que o Senhor, o
SENHOR dos Exércitos, tira de Jerusalém e de Judá o sustento e o apoio, todo
sustento de pão e todo sustento de água; (...) Porque Jerusalém está arruinada,
e Judá, caída; porquanto a sua língua e as suas obras são contra o SENHOR, para
desafiarem a sua gloriosa presença. (...) O aspecto do seu rosto testifica
contra eles; e, como Sodoma, publicam o seu pecado e não o encobrem. Ai da sua
alma! Porque fazem mal a si mesmos. (...) Ai do perverso! Mal lhe irá; porque a
sua paga será o que as suas próprias mãos fizeram. Os opressores do meu povo
são crianças, e mulheres estão à testa do seu governo. Oh! Povo meu! Os que te
guiam te enganam e destroem o caminho por onde deves seguir. O SENHOR se dispõe
para pleitear e se apresenta para julgar os povos. O SENHOR entra em juízo
contra os anciãos do seu povo e contra os seus príncipes. Vós sois os que
consumistes esta vinha; o que roubastes do pobre está em vossa casa.
O contexto é claro quando mostra o juízo de Deus contra o
povo. E uma das várias ações divinas que demonstram o duro julgamento está
contida na frase: “mulheres estão à testa do seu
governo”. Como se não bastasse o caos de uma nação sem rei, sem
guerreiros, tomada por opressores e por líderes corruptos e infantis, mulheres encontram-se
à frente como chefes do governo. Neste caso, a conclusão é simples, quando
mulheres assumem o posto que, por direito criacional pertence aos homens, significa
que o juízo de Deus desceu do céu e se instaurou sobre a nação.
Minha conclusão sobre o que vimos acima é simples, nenhuma
mulher deve assumir o posto de liderança sobre homens porque se assim fizer
trará desonra e demonstrará a presença do juízo de Deus. É obvio que o mundo situado
no maligno faz pouco caso sobre este assunto, mas para nós que somos de Deus
trata-se de uma questão que deve ser, pelo menos, refletida com profundidade e
temor. E para auxiliar um pouco mais nesta reflexão faço os seguintes
questionamentos: qual o homem de Deus gostaria de ver sua esposa como
presidente da república, governando a nação? Ou como oficiala do exército
comandando diretamente dezenas de homens? Ou como chefe de uma grande
repartição chefiando vários funcionários? Ou como delegada de polícia
vociferando sobre policiais e bandidos? Ou como alta funcionária pública
mandando sobre homens subordinados? Ou ainda, qual o homem de Deus gostaria de
ver sua esposa como parlamentar decidindo sobre seus comissionados? Se sua
resposta for “nenhum” então você
concorda com o que defendo até aqui.
Quero ampliar a discussão trazendo uma ilustração. Suponhamos
que um casal de crentes está relaxando sobre a cama ouvindo uma música suave;
ele presbítero e ela membro comungante da igreja. Inesperadamente o celular da
esposa toca e a partir daí um diálogo tem início com um subordinado ao cargo
exercido por ela na empresa. A conversa ocorre sob forte tensão e a mulher
começa a dar comandos com extrema firmeza por meio de reprimendas e cobranças
ao tal sujeito do outro lado da linha. Em seguida, metas são estabelecidas para
que o funcionário do outro lado da linha as cumpra dentro de prazos
estabelecidos. A autoridade no tom de voz e na maneira de se comunicar salta
aos olhos e aos ouvidos do marido que permanece passivo, como mero espectador
daquela cena. Por fim a conversa acaba e o telefone celular é desligado fazendo
com que a música suave volta a ser ouvida por não mais ser superada pelo firme tom
de voz da esposa que agora se vira e olha para o marido e desabafa: “Ai! Não é
fácil ser chefe de departamento na empresa, tenho que lidar com tantas pessoas
incompetentes?!” Ao ver o olhar do marido, ela percebe toda a situação criada
pelo telefonema e, tentando amenizar diz: “Oh, meu querido, ainda bem que aqui
em casa e na igreja estou debaixo da autoridade dos homens...”
O que este marido crente e presbítero pensaria sobre este contraste
vivenciado entre o lar, a igreja e o tipo de trabalho da esposa? Esta narrativa
fictícia elucida sobre a funcionalidade ordenada por Deus ao homem-líder e à
mulher-submissa, funcionalidade esta que não se restringe somente à Igreja e à
família, mas atinge todo o espaço social ao redor de nós. Repito, se esta
ilustração o incomoda, então no mínimo você caminha na mesma direção em que eu
caminho. Conclusão: de acordo com a economia divina, não há nenhum lugar na
sociedade onde seja permitido à mulher exercer autoridade sobre homens.
Quinta e última falácia: A mulher pode ensinar adultos numa classe
bíblica.
Muitos não vêm problema quando uma professora coloca-se à
frente de uma sala de jovens ou de adultos para ensinar a Bíblia no ambiente da
Escola Dominical. O argumento é simples, como há uma diferença entre o culto solene
e a Escola Dominical, então concorda-se que lá no culto a mulher não pode
dirigir nem pregar, mas aqui na escola não há problema quando uma irmã piedosa
ensina numa sala repleta de homens.
Com relação ao argumento acima faço duas considerações. Primeiro,
os argumento é verdadeiro quando estabelece uma diferença importante entre a
Escola Dominical e o culto solene. Não podemos confundir o momento em que a
família de Deus se reúne para cultuar ao Senhor com um momento didático cujo
objetivo é o aprendizado da Bíblia. E digo mais, uma igreja não estaria pecando
contra Deus se transferisse a Escola Dominical para qualquer outro dia da
semana ou mesmo se a eliminasse praticando apenas o culto solene no dia do
Senhor, embora eu concorde que tal atitude em muito prejudicaria os crentes,
retirando deles a oportunidade de estudar em grupo a Palavra de Deus no Domingo.
A segunda consideração que faço é que há um grande equivoco na derivação do
argumento supracitado quando, em nome dessa diferença, seja dado às mulheres o
direito de ensinar aos homens. Mais uma vez recorro ao texto de Paulo em
1Timóteo 2.12: “E
não permito que a mulher ensine...”.
Mas há outro texto de Paulo que quero utilizar aqui para ampliar
os fulcros do meu argumento. É o que está escrito em Tito 2.3-5
Quanto
às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não
caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de
instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem
sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que
a palavra de Deus não seja difamada.
Este texto reconhece que as mulheres podem receber de Deus
a capacidade para ensinar, de serem boas professoras, ou como Paulo afirma, de
serem mestras do bem. Mas a quem estas mestras devem ensinar? Hoje muitos diriam
que a qualquer sala mista de jovens e adultos da Escola Dominical. Mas não é
isso que Paulo escreve. O apóstolo deixa claro o alvo deste ensino são outras
mulheres pouco experientes no trabalho voltado ao lar. Logo, não se nega a
existência de mulheres mestras, a questão é o público alvo deste ensino, e
neste aspecto as Escrituras não deixam dúvidas.
E por que o apóstolo não indicou homens como alunos das
mestras do bem? Justamente porque Paulo não poderia ferir o princípio imposto
por ele mesmo sobre a impossibilidade de existir mestras de homens. Conclusão:
nada nas Escrituras justificam o ensino por parte da mulher aos homens na
Escola Dominical ou em qualquer outro contexto.
CONCLUSÃO
Devido à complexidade do assunto, termino este texto
citando 1Coríntios 2.14 que diz:
Ora,
o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são
loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
Vejo com tranquilidade que os argumentos tratados até aqui
são loucura para os incrédulos. Já para os crentes, pelo menos, deveria ser motivo
para uma reflexão cheia do temor do Senhor. Tratar sobre o papel da mulher no
lar, na Igreja e na sociedade como um todo não é tarefa fácil, embora o desafio
seja honroso. O que tentei até agora não foi outra coisa senão apenas usar de
honestidade com aquilo que creio estar nas Escrituras e nos Símbolos de Fé que
subscrevo. Espero de coração que a reflexão provocada por minhas palavras aconteça
ao redor da vontade divina revelada e que, em tudo, o nome de Deus seja
glorificado.
Não posso encerrar sem antes fazer um reconhecimento.
Quero distinguir, honrar e louvar a atuação feminina como auxiliares de Deus aos
homens crentes em todos os momentos e em todos os lugares. Deus tem capacitado
suas eleitas ao longo da jornada da Igreja para que sejam benevolentes e servas
abençoadas. A mulher, representada na pessoa de Maria, possui o privilégio de
ter sido instrumento exclusivo para a vinda do Salvador a esta terra. Que
privilégio, como Deus ama as mulheres, como são importantes. Daí a grande e
séria responsabilidade dos homens em liderá-las biblicamente por meio do
cuidado e do serviço a cada uma delas, sempre atentos para não pecarem contra
Deus e, consequentemente contra as mulheres por meio da omissão, da preguiça, da
covardia, ou ainda por meio da brutalidade, da violência e do descaso. Quanto
às servas de Deus, mulheres de valor, rogo para que todas tragam no coração e
na mente as palavras de Maria registradas em Lucas 1.38:
Aqui
está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra.
Sola Scriptura
[1] Uso o termo aqui, não com conotação financeira, mas em seu
significado etimológico: οικονομία,
ou seja: οικος = casa e νόμος = lei, regra,
logo, regra doméstica.
[2] Confissão de Fé de Westminster I.9.
[3] CALVIN, John. Comentary on Corinthians. Grand Rapids:
Christian Classics Ethereal Library. Vol. 1, s/d, p. 298 [tradução minha]
[4]
Para uma discussão mais aprofundada, recomendo: CRAMPTON,
Gerry. The Bible and women teachers.
(www.trinityfoundation.org); CLARK Gordon H. First Corinthians (www.trinityfoundation.org); WARFIELD, Benjamin. Paul
on Women Speaking in Church. (www.bible-researcher.com).
[5] Lembrando que há atualmente três tipos gerais de liturgia nas
igrejas: o modelo tradicional, o modelo contemporâneo e o modelo puritano.
4 comentários:
Gostaria que meu comentário fosse publicado. Não serei irônico como anteriormente. Minha questão é: o posicionamento evidenciado no post não aproxima essa leitura da Bíblia da leitura que os talebãs fazem do Alcorão, quando reduzem expressivamente a participação das mulheres na vida social?
As mulheres não liderarem a igreja é até de compreensível argumentação, no contexto da leitura gramático-histórica da Bíblia, em viés conservador. Vá lá.
Mas restringir, como o artigo propõe, a vida social das mulheres, em posição de liderança, soa bastante descabido, algo levado ao paroxismo quando defende que um país está sob juízo divino ao ter uma mulher em seu governo. Isso se aplica ao Brasil de Dilma tanto quanto à Inglaterra de Tatcher? Ou à Alemanha de Merckel?
Por favor responda.
Grato.
Caro Alfredo, paz em Cristo! Tenho uma dúvida... Uma mulher poderia então pregar a um homem? Ou ser missionária em terras não alcançadas? Como proceder então ao chegar em um lugar onde Cristo ainda não foi anunciado e não houver nenhum outro homem que pregue a Palavra e a ensine? Não quero, de modo algum, gerar polêmica, esta é uma dúvida que tenho há muitos anos e não é infundada, sendo que vejo esse dilema em muitas irmãs que estão no campo missionário. Obrigada!
Então deve existir turmas separadas nas Faculdades e Universidades, homens numa sala, mulheres em outra sala? Assim os machos não se sentiriam humilhados? Do mesmo modo, escritórios de advocacia onde mulheres comandassem outras, agências de publicidade, firmas de variados tipos e por aí vai? Uma juíza que atue nas mais variadas instâncias e tribunais seria para você uma aberração? Seu pensamento sobre esse assunto não é muito comum entre teólogos e pregadores reformados, até entre os mais conservadores, aqui no Brasil ou no exterior. Estariam estes, e os mais moderados, sobre influência do "maligno"?
Olá, professor, boa tarde.
Bom, vejo que seu blog tem um caráter duplo de identidade, tanto quanto pastor quanto professor de ensino superior da UFRR. Percebo isso porque vez ou outra cita Bourdieu e Norbert Elias para explicar questões relacionadas à sociedade (entre uma e outra passagem bíblica).
Meu comentário será com relação à atuação profissional acadêmica, não quero entrar na questão religiosa porque não tenho conhecimento e mesmo que tivesse não questionaria o que sua igreja prega. Porém, seu artigo entra em questões civis, como a liderança feminina ou a submissão da mesma. Se uma mulher uma assumir a coordenação do curso de História, por exemplo, sua atuação profissional com relação com essa mulher será afetada? Porque, citas o exemplo da Marina Silva e da Dilma, que não teriam a possibilidade de receber seu voto porque são mulheres. Não há uma questão de gênero por trás disso?
Somos o Estado que mais mata mulheres no Brasil, que mais violenta mulheres e muitas delas estão submissas aos seus companheiros por questões de dependência financeira ou por conta dos seus filhos. Isso não é uma questão a se repensar por afetar a sobrevivências das mulheres? Levando em consideração que seus textos sempre iniciam condenando o machismo, mas ao mesmo tempo prega e defende a submissão feminina.
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